Os direitos das mulheres enfrentam riscos crescentes em um a cada quatro países, e retrocessos preocupam globalmente. A ONU Mulheres, que completa 15 anos em 2025, alerta para a necessidade urgente de renovar esforços em defesa de meninas e mulheres, que ainda não estão proporcionalmente representadas na política e em cargos de decisão, além de sofrerem desproporcionalmente com a pobreza e a violência.
“Direitos das mulheres são como ondas do mar: há retrocesso, mas avanços são persistentes”, afirmou Ana Querino, representante interina da ONU Mulheres no Brasil. Ela usou a analogia para explicar que a caminhada pela igualdade não é linear, mas a força das mudanças é irrefreável.
Desafios globais e sub-representação no Brasil
Com 4 bilhões de meninas e mulheres no mundo, a sobrevivência delas em igualdade com os homens permanece um desafio global. Uma pesquisa da ONU Mulheres, de março deste ano, aponta preocupação com o aumento da violência e da exclusão digital feminina, indicando um momento histórico precário para as condições de vida das mulheres.
Entre os desafios atuais, a agência destaca a recomendação da Convenção para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (Cedaw) para que os países incluam 50% de mulheres em espaços de decisão. No Brasil, apesar de a Cedaw ter força de lei desde 1984, as mulheres representam apenas 17% dos parlamentares no Congresso Nacional.
Outra grande preocupação é com as 600 milhões de mulheres e meninas vivendo em zonas de conflito, 50% a mais que há uma década. Essa situação é um fator determinante para mortes maternas, com seis em cada dez mortes relacionadas à gravidez ocorrendo em países afetados por conflitos. A violência, incluindo estupros, é frequentemente usada como arma de guerra.
Ações propostas para o futuro
A ONU Mulheres cobra que lideranças globais, chefes de Estado e parlamentos reforcem os compromissos internacionais, como a Plataforma de Ação de Pequim e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O objetivo é renovar o compromisso de Estados e instituições privadas, com 15 ações divulgadas nesta terça-feira (1º).
A principal delas é proteger as conquistas já obtidas, garantindo que sistemas legais, políticos e financeiros promovam a igualdade de gênero. Ana Querino ressalta a importância de vozes que reforcem o progresso, diante de discursos que se contrapõem a esses direitos.
Outras ações importantes incluem a inclusão digital das mulheres, pois a falta de acesso e de participação feminina na indústria digital pode levar a tecnologias que reproduzem misoginia e discriminação, além de aumentar a violência online.
Entre as prioridades para erradicar a pobreza está o combate à fome, já que uma em cada dez mulheres vive com menos de US$ 2,15 por dia, e mais mulheres do que homens enfrentam insegurança alimentar.
O combate à violência é fundamental: uma mulher ou menina é assassinada a cada dez minutos no mundo por parceiros ou parentes. A ONU Mulheres exige fortalecimento das leis, tolerância zero e apoio às sobreviventes. A participação feminina nas discussões sobre mudanças climáticas e a garantia de empregos dignos e salários iguais (elas ainda ganham 20% menos) são outras frentes essenciais.