A avenida paulista foi palco de um evento histórico neste sábado (21), com a Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo reunindo milhões de pessoas e, pela primeira vez em 29 edições, colocando o envelhecimento da população LGBTQIA+ no centro das discussões e da celebração. Estimada em 4 milhões de participantes pela organização, a parada contou com 17 trios elétricos que desfilaram desde as 13h, rumo ao centro da cidade.
Considerada a maior parada pela diversidade no mundo, o evento ganhou um tom especial com o ativista Norivaldo Júnior, membro do conselho nacional dos direitos da pessoa idosa, do ministério dos direitos humanos e da cidadania. Acompanhado do marido, o publicitário Rodrigo Souza, Norivaldo expressou sua alegria com a escolha do tema.
“Quando a diretoria da parada anunciou que o tema seria o envelhecer foi uma grande alegria para nós, do conselho. A comunidade lgbt passou por uma lacuna durante a década de 80 e ela perdeu muito da sua referência. Hoje a gente consegue fazer ou tentar fazer com que esta geração tenha uma velhice melhor do que a minha”, disse Nori. Ele alertou para a invisibilidade que os idososLGBT podem enfrentar: “infelizmente temos uma geração, chegando, que é muito ligada às questões do corpo e que nos devolve para o armário, pois não consegue nos ver, enquanto idosos, como pertencentes ao movimento. De certa forma não aceitam que irão chegar aos meus 62 anos. Ela volta a nos invibilizar, e faz com que você passe tudo aquilo que muitas vezes você passa na sua juventude, que foi ser expulso de casa, não ser aceito em uma escola, ser difícil conseguir trabalho. Quando você chega à idade, à velhice LGBT, você volta a passar por todo esse ciclo novamente. Por isso a importância muito grande de a parada deste ano ter um tema de envelhecimento”, relatou.
Rodrigo Souza, marido de Nori, com quem tem 27 anos de diferença de idade e 14 anos de relacionamento, resumiu a essência do amor e do companheirismo: “não importa a diferença de idade, mas, se você tem um amor, se você tem um carinho, tem que pensar que amor é construção. ele leva tempo, paciência e muito companheirismo”.
Diversidade e representatividade em cada bloco
Ao som de música eletrônica e da batida dos leques, a parada foi um caldeirão de amizades, casais de todas as idades e famílias, promovendo um ambiente de celebração e conscientização. Um dos blocos que chamou atenção foi o das famílias de crianças transgênero, o bloco crianças e adolescentes trans existem, que desfila há quatro anos. Thamirys Nunes, 35 anos, presidente da ONG Minha Criança Trans e mãe de uma criança trans de 10 anos, destacou a importância da visibilidade:
“A gente vem numa busca de trazer visibilidade, de mostrar que as crianças e adolescentes trans existem, que precisamos de direitos, que as nossas famílias são famílias como qualquer outra família, que as nossas crianças são como qualquer outra criança. A gente sabe que existe um movimento aí que insiste em negar a existência das nossas filhas e filhos e insiste em dizer que não precisa de políticas públicas, em dizer que somos famílias disfuncionais. Estamos aqui no chão para dizer que somos famílias, como quaisquer outras famílias. E que vamos estar aqui lutando sempre pelas nossas crianças e adolescentes trans, porque, se precisam de futuro, o futuro começa com reconhecimento”, afirmou Thamirys.
Com uma trajetória longa na parada, Mey ling, 45 anos, acompanha a mobilização desde 1996 e desfila “montada” desde 2001. Para ela, é vital continuar resistindo e se fazendo presente: “tem protesto, tem mobilização, e é sempre festa. E montada a gente tem mais visibilidade, chama mais atenção, tem mais foto, todo mundo quer falar, todo mundo quer… aí é isso, quando a pessoa vem, a gente consegue abrir o leque maior, consegue representar, consegue protestar, consegue colocar pra fora.”
O argentino German Rocha, debutando na festa também “montado”, desfilou com alegria. Em sua terceira idade, ele viajou de Buenos Aires com o marido e um amigo para acompanhar a luta pelos direitos além de seu país. “viemos para participar da festa, para demostrar que tanto na argentina como no Brasil, em muitos lugares, temos a mesma ideologia, de sustentar nossos direitos e conquistas, de buscar mais revolução e mais luta. A América Latina não será vencida”, declarou. Sobre o ativismo na Argentina, ele mencionou: “a Argentina tem muitos direitos, mas estamos passando mal com o presidente, que é terrível e nos envergonha, mas seguimos lutando para preservar o que temos construído”.
O Governo Estadual mobilizou 1,5 mil agentes de segurança para garantir a tranquilidade do evento, tanto na extensão da parada quanto nas delegacias. As autoridades recomendaram atenção aos pertences e o bloqueio de celulares em caso de furto ou roubo. Equipes de saúde e o esquema de transporte também foram reforçados para atender à grande demanda.