A ativista Maha Mamo, 37 anos, conhecida por ser uma das primeiras pessoas reconhecidas como apátrida no Brasil, reflete sobre sua trajetória de vida, migração e a busca por amor e aceitação. Com um cenário internacional conturbado, Maha destaca a necessidade de empatia e gentileza.
Nascida em Beirute (Líbano) em 1988, Maha e sua irmã foram consideradas apátridas por 30 anos. Devido a leis sírias e libanesas que impediam o registro de filhos de pais de nacionalidades ou religiões diferentes, elas não tinham acesso a serviços básicos.
Foi no Brasil que Maha obteve documentos oficiais pela primeira vez em 2014, e em 2018, ela e a irmã receberam a nacionalidade brasileira. Atualmente, a ativista luta pela extinção de leis que geram a apatridia, fenômeno que afeta 4,4 milhões de pessoas, segundo a Acnur.
Migração, amor e sexualidade
Maha, que migrou do Líbano para o Brasil e, mais recentemente, para os Estados Unidos com a esposa, desafia a ideia de que “tempo é dinheiro”. Para ela, o tempo é a oportunidade de buscar a felicidade e estar perto de quem se ama. “A vida se move com amor”, afirma.
A migração para o Brasil foi transformadora não apenas por garantir documentos, mas por permitir que Maha se aceitasse plenamente. No Líbano, a homossexualidade é criminalizada. “Eu tinha namoradas no Líbano, mas, como era crime no país, eu nunca me assumi, nem para mim mesma”, conta.
No Brasil, Maha encontrou confiança. “Eu me senti aquela pessoa completa, me senti aquela pessoa que não precisa se esconder”. Ela se casou com Isabela Sena e, ao se mudarem para os Estados Unidos, Maha optou por seguir o amor.
A ativista relata um momento de profunda aceitação quando revelou o casamento à mãe, uma mulher síria e muçulmana. A reação da mãe, que lhe deu a própria aliança, foi uma transformação pessoal para Maha, reforçando sua crença na capacidade de mudança das pessoas.
Lançamento de Podcast e reflexões
Maha Mamo planeja lançar seu próprio podcast, intitulado Ser in Love, ainda este mês. O projeto discutirá o amor e suas reflexões sobre a vida. Maha expressa seu desejo de usar o português nos programas: “Eu acho que, em português, eu consigo me expressar muito melhor. […] Quando você ama o país, ama a língua, ama o jeito, aí vira você”.