“Eu cheguei aqui de uma forma bem vulnerável, debilitada, sem apoio da família e sem saber para onde correr. Hoje, posso dizer que encontrei uma nova vida, uma rede de apoio que me deu forças para recomeçar.”
O desabafo é de Joana*, mãe solo de cinco filhos. Durante cinco anos, ela foi prisioneira de um relacionamento abusivo — mantida em cárcere privado por mais de dois anos. Uma mulher sequestrada dentro da própria casa, vítima da crueldade de quem deveria amá-la.
Joana é o rosto de milhares de mulheres que lutam para escapar da violência doméstica — um crime que não tem desculpa, não tem justificativa e não tem “lado”. Quem levanta a mão contra uma mulher destrói a própria dignidade.
A força de quem sobrevive
Seis meses depois de romper o ciclo de violência, Joana encontrou abrigo no Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam), da Secretaria da Mulher do Distrito Federal (SMDF). Lá, participa do grupo psicossocial Virando a Página, que reúne cerca de 30 mulheres toda quarta-feira, em encontros conduzidos por um psicólogo. Nas quintas, ela mergulha em oficinas de artesanato — fuxico, crochê, tapeçaria e bordado — reconstruindo, ponto a ponto, a autoestima que o agressor tentou rasgar.
Hoje, Joana recebe o Bolsa Família e o auxílio aluguel social, benefício temporário de R$ 600 mensais oferecido a mulheres em situação de violência que precisam recomeçar longe do perigo. É pouco diante do trauma, mas o suficiente para provar que há saída — e que o Estado está presente.
Rede de acolhimento cresce — e salva vidas
Nos últimos dois anos, o DF mais que dobrou o número de unidades de acolhimento, saltando de 14 para 31 centros. O avanço foi possível graças ao aumento de 743% no orçamento da Secretaria da Mulher, que passou de R$ 10,3 milhões em 2020 para R$ 86,9 milhões no último ano.
Esses espaços oferecem escuta qualificada, orientação jurídica, atendimento psicológico e encaminhamento à rede de proteção. A Casa da Mulher Brasileira e a Casa Abrigo seguem como referências, enquanto novos centros e núcleos especializados expandem o alcance da política pública em todas as regiões administrativas.
“Quando acontece a violência, nós enfrentamos. Mas queremos que ela não aconteça. Por isso ampliamos a rede e levamos informação até as mulheres”, afirma Giselle Ferreira, secretária da Mulher.
Nos seis primeiros meses deste ano, 24.983 atendimentos psicossociais foram registrados, com 11.226 mulheres acolhidas. Cada número representa uma história interrompida pela brutalidade e reconstruída pela solidariedade.
“Quem cuida de uma mulher, cuida de uma família e de uma geração inteira. Este é um governo amigo da mulher”, reforça Giselle.
A vice-governadora Celina Leão acrescenta:
“Nosso compromisso é garantir atendimento rápido, humano e oportunidades para autonomia financeira. São políticas que transformam vidas e fazem do DF um lugar mais justo para as mulheres.”
O agressor também precisa enfrentar o espelho
A rede pública também investe em grupos reflexivos para homens agressores — espaços de enfrentamento e reeducação. O objetivo é simples e inadiável: romper o ciclo da violência antes que vire tragédia.
“Cheguei fechado, achando que estava certo. Percebi que muito do que eu fazia era errado. Aprendi a conversar antes de reagir”, relata João*, um dos participantes.
É um esforço válido — mas que jamais deve servir de escudo. Nenhuma mudança pessoal apaga o crime cometido. Violência doméstica não é “erro”, é ato criminoso, e deve ser tratado como tal. Quem bate, humilha ou aprisiona uma mulher precisa responder por isso diante da lei.
O silêncio só protege o agressor. E cada mulher calada é uma denúncia que não aconteceu — uma nova vítima em potencial.
Denuncie. Sempre.
Se você sofre violência, ou conhece alguém que sofre, não se cale.
197 (Polícia Civil)
190 (Polícia Militar)
156, opção 6 (Central 156 do GDF)
180 (Central de Atendimento à Mulher)
Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher, da PCDF
Programa Direito Delas, da Secretaria de Justiça e Cidadania
Casa da Mulher Brasileira, em Ceilândia
Centro de Referência da Mulher Brasileira
Centro Especializado de Atendimento à Mulher
Espaços Acolher, vinculados à Secretaria da Mulher.
Violência doméstica é crime. É covardia. É uma ferida aberta na sociedade — e o silêncio nunca foi cura.
Nomes fictícios foram usados para preservar a segurança das vítimas e participantes.

