A espera por cirurgias nos hospitais públicos do Distrito Federal começou a diminuir. O programa OperaDF trouxe anestesistas contratados para reforçar o atendimento, e o Hospital da Região Leste (HRL), no Paranoá, foi o primeiro a sentir o impacto dessa mudança.
O problema era simples, mas doloroso: faltavam anestesistas. Sem eles, não há cirurgia. E sem cirurgia, pacientes ficam dias, às vezes semanas, esperando em leitos hospitalares ou sofrendo em casa. A auxiliar de serviços Natália Ferreira, 39 anos, conhece bem essa angústia. Com o braço fraturado, ela viu seu procedimento ser desmarcado justamente pela ausência de profissionais. “É muito ruim ficar internada em um hospital. Agora vou para casa, é uma grande alegria”, comemora.
Como funciona a operação
O reforço no quadro de anestesistas permitiu que o HRL ampliasse as atividades no centro cirúrgico. A estratégia é dividir o trabalho: enquanto os anestesistas servidores da SES-DF se dedicam aos casos urgentes, os contratados pelo programa cuidam das cirurgias eletivas — aquelas que podem ser agendadas, mas que não deixam de ser necessárias.
Na primeira semana de operação, o hospital já registrou dez turnos extras de procedimentos. Para quem está de fora, pode parecer pouco. Mas não é. “Esperamos atender com mais agilidade os casos de cirurgias eletivas ortopédicas e de coluna já autorizadas”, afirma a diretora do HRL, Alessandra Hilbert.
O desafio das cirurgias complexas
O HRL é referência em ortopedia no DF, o que significa que recebe os casos mais complicados. Uma cirurgia de coluna, por exemplo, pode levar até dez horas. Enquanto a maioria dos hospitais consegue realizar de duas a três operações por turno, no HRL a conta não fecha da mesma forma. Procedimentos de grande porte exigem tempo, equipe qualificada e equipamentos de ponta.
E o hospital tem tudo isso: microscópios cirúrgicos, carrinhos de anestesia modernos e radioscopia. “Temos tudo o que há de melhor no centro cirúrgico para receber esses pacientes”, garante Hilbert. O problema, até agora, era a falta de anestesistas para colocar toda essa estrutura em funcionamento.
O alívio vai além da sala de cirurgia
Reduzir a fila de cirurgias não beneficia apenas quem está esperando pelo procedimento. Libera leitos. E leito livre significa que o hospital pode receber novos pacientes com mais agilidade. Segundo a diretora, casos não urgentes já estão sendo atendidos em três ou quatro dias de espera, principalmente por conta dos exames preparatórios.
É o tipo de melhoria que se espalha: menos gente esperando internada, mais vagas para quem precisa, menor pressão sobre a emergência.
Por que faltam anestesistas?
A resposta do secretário de Saúde, Juracy Lacerda, é direta: a área de anestesia é de difícil provimento. A SES-DF abre concursos, mas os candidatos não aparecem. O setor público não consegue competir com os salários e as condições oferecidas pela rede privada.
“Com a contratação do serviço de profissionais da rede complementar, pretendemos preencher em parte essa lacuna e melhorar o atendimento oferecido à nossa população”, explica Lacerda. A solução, então, foi buscar fora: contratar anestesistas da rede complementar para trabalhar nos hospitais públicos.
Expansão do programa
O OperaDF colocou à disposição da SES-DF 5,4 mil horas de plantões de anestesistas. Além do HRL, outros cinco hospitais receberão o reforço: Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Hospital Regional de Ceilândia (HRC), Hospital Regional de Planaltina (HRPl), Hospital Regional de Taguatinga (HRT) e o Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib).
A expectativa é que, com mais profissionais disponíveis, a fila de cirurgias eletivas comece a andar em todo o DF. E que histórias como a de Natália — que finalmente pôde voltar para casa — se tornem cada vez mais comuns.

