Uma nova pesquisa sobre o poder de consumo e as percepções da população negra no Brasil revela uma inversão de confiança: o empresariado inspira mais credibilidade nesse grupo (85,3%) do que os governantes (68,7%). O estudo “O Consumo Invisível da Maioria”, dos institutos Akatu, DataRaça e Market Analysis, foi apresentado hoje (10) no Fórum Brasil Diverso 2025.
O levantamento, que ouviu 1 mil pessoas negras de todas as regiões do país, toma como referência o expressivo valor de R$ 1,9 trilhão movimentado anualmente por este grupo populacional.
Desconfiança e sentimento de impotência
A pesquisa identificou um forte sentimento de impotência da população negra diante de consequências diretas do racismo:
- Violência policial: 22%
- Falta de oportunidades de trabalho: 20,7%
- Racismo religioso contra vertentes afrobrasileiras: 19%
- Apagamento em veículos de comunicação: 17,6%
O presidente do DataRaça, Maurício Pestana, atribuiu a maior confiança nas empresas à clareza das regras corporativas versus o histórico de leis frequentemente burladas no poder público, que gera desconfiança.
Credibilidade nas instituições
No ranking de credibilidade, as organizações não governamentais (31%) e as instituições religiosas (30,7%) lideram, registrando os menores índices de desconfiança (8% e 7,6%, respectivamente).
Em relação aos governos, apenas 12,9% afirmaram depositar muita confiança, contra 24% que expressaram falta de confiança.
Grupos que Mais Confiam no Governo:
Grupo Confiança no Governo
Idosos 76,9%
Jovens 75,7%
Mulheres 73,2%
A Classe B se mostrou a mais crítica em relação aos governos, com 37,7% expressando falta de confiança no poder público.
Racismo no consumo: 1 em cada 3 clientes vítimas
O estudo expôs a prevalência do racismo na esfera do consumo. Um em cada três clientes negros (34,8%) foi vítima de discriminação ao contratar um serviço ou comprar um produto no último ano. Em 7 de cada 10 casos, o racismo se manifestou por meio de gestos sutis ou disfarçados, como olhares de julgamento ou abordagens que destoavam do padrão.
Locais com mais atos racistas:
- Lojas de roupas, calçados e acessórios: 24,5%
- Shoppings: 17%
- Supermercados: 16,8%
Por outro lado, os setores de higiene, beleza, vestuário/moda e e-commerce são os que mais têm cativado os brasileiros negros por suas políticas abertas à diversidade.

