O Governo do Distrito Federal (GDF) promove nesta terça-feira (14), a partir das 9h, uma operação de acolhimento e assistência social para pessoas em situação de rua que ocupam cinco pontos da Asa Norte. A ação é coordenada pela Casa Civil e reúne um verdadeiro batalhão de órgãos públicos: as secretarias de Desenvolvimento Social (Sedes-DF), Saúde (SES-DF), Educação (SEEDF), Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda (Sedet-DF), Segurança Pública (SSP-DF), Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) e Justiça e Cidadania (Sejus-DF), além do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Novacap, Codhab, Detran-DF, Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros Militar e Conselho Tutelar.
É muita gente envolvida — o que pode ser um bom sinal de coordenação intersetorial, mas também acende o alerta: será que toda essa estrutura vai se traduzir em soluções efetivas, ou estamos diante de mais uma operação que resolve temporariamente o problema visual sem atacar a raiz?
O que será oferecido
As pessoas em situação de rua terão acesso a uma gama de serviços nas áreas de saúde, educação e assistência social, além de orientações sobre cuidados com animais domésticos e informações sobre benefícios como deslocamento interestadual. Entre as ofertas, estão:
- Auxílio excepcional de R$ 600 para quem não tem condições de arcar com aluguel
- Vagas em abrigos
- Programas de qualificação profissional, como o RenovaDF
- Cadastro para unidades habitacionais da Codhab
No papel, a proposta parece abrangente. O auxílio de R$ 600 é algo, mas qualquer pessoa que conheça o mercado de aluguel em Brasília sabe que esse valor não paga nem um quarto compartilhado em muitas regiões. A questão é: esse valor será recorrente ou é apenas uma ajuda pontual? E as vagas nos abrigos — quantas são, de fato, e quais as condições desses locais?
O que acontece depois
Após o atendimento, a DF Legal fará o desmonte das estruturas utilizadas pelas pessoas em situação de rua e o transporte dos pertences para o local indicado pelo próprio ocupante. Caso não haja indicação, os objetos pessoais serão encaminhados ao depósito da pasta, no SIA Trecho 04, Lotes 1380/1420, onde poderão ser retirados em até 60 dias, sem custo.
Aqui mora um ponto sensível: a remoção de estruturas é parte do protocolo, mas historicamente esse tipo de operação tem sido criticado por não oferecer alternativas concretas de reinserção social. Desarmar a barraca é rápido. Garantir que a pessoa tenha um lugar digno para morar, trabalho e acompanhamento contínuo é outra conversa.
Durante toda a semana passada, as secretarias realizaram abordagens sociais e atendimentos prévios nos locais, mapeando o público a ser atendido e suas demandas. Isso é importante — pelo menos indica que não é uma ação de última hora, feita apenas para “limpar” a área.
Onde a ação acontece
Os pontos de atuação nesta terça-feira (14) são:
- 601 Norte
- Via N4 Leste, SGAN 601
- SGAN 607, L3 Norte
- SGAN 610, L3 Norte
- 611/612, L3 Norte
A pergunta que fica
Operações como essa costumam gerar reações mistas. De um lado, há quem defenda que o poder público precisa agir para garantir o uso adequado do espaço público e oferecer alternativas dignas para quem está na rua. De outro, há críticas sobre a falta de continuidade dessas ações — muitas vezes, após o desmonte das estruturas, as pessoas voltam para as mesmas áreas semanas depois, porque não houve inserção real em programas de moradia, trabalho e saúde.
O auxílio de R$ 600 é insuficiente para sustentar aluguel em Brasília. As vagas em abrigos, historicamente, não dão conta da demanda. E os programas de qualificação profissional, por mais bem-intencionados que sejam, precisam de acompanhamento de médio e longo prazo para realmente gerarem empregabilidade.
A ação de hoje é um passo. Mas o verdadeiro teste será saber se, daqui a três, seis meses, essas pessoas estarão inseridas em alguma rede de proteção consistente — ou se terão simplesmente migrado para outro canto da cidade, longe dos olhos, mas ainda na mesma situação.

