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Economia

Itaipu: Mais turbinas em estudo pelo crescimento do Paraguai

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© Joédson Alves/Agência Brasil

A usina hidrelétrica binacional de Itaipu está avaliando a possibilidade de ampliar em 10% o número de suas turbinas geradoras. A medida é uma resposta à projeção de que o Paraguai consumirá, em breve, toda a energia elétrica a que tem direito, diminuindo o excedente vendido ao Brasil. A informação foi confirmada pelo diretor-geral da estatal, Enio Verri.

Atualmente, Itaipu possui 20 unidades geradoras, responsáveis por cerca de 9% da energia consumida no Brasil, e dispõe de espaço para a construção de mais duas. “É inevitável, isso vai ocorrer”, declarou Verri durante um encontro com jornalistas em Foz do Iguaçu (PR), na fronteira entre Brasil e Paraguai. Ele ressalta, contudo, a necessidade de amplos estudos técnicos, sociais e ambientais, viabilidade econômica e acordo entre os dois países para que a expansão se concretize.

 

Crescimento da demanda Paraguaia e impacto no Brasil

O diretor-geral brasileiro explicou que o Paraguai se aproxima do cenário de consumir toda a energia a que tem direito, deixando de vender o excedente ao Brasil. Fatores como o crescimento econômico paraguaio, a crescente presença de data centers (incluindo os de inteligência artificial – IA) e a intensiva mineração de criptomoedas estão impulsionando essa demanda.

Hugo Zárate, diretor-técnico paraguaio de Itaipu, citou projeções de que o Paraguai atingirá 50% do consumo da geração da hidrelétrica até 2035. Ele destacou o expressivo crescimento da demanda nos últimos dois anos, “superior a 14% no consumo de energia”, atribuído à utilização intensiva para mineração de criptomoedas e incentivos para a presença de data centers e servidores de IA.

 

Viabilidade da ampliação e desafios sociais

Sobre o estudo de viabilidade para construir as duas novas turbinas, Enio Verri adiantou que a equipe de Itaipu já está analisando a questão. Ele detalhou que há “espaço físico” na estrutura da barragem do Rio Paraná, após os vertedouros.

Verri ponderou que um aumento de 10% no número de turbinas não se traduz necessariamente em 10% de aumento na capacidade de geração, dependendo da produtividade das novas turbinas e avanços tecnológicos. Atualmente, as 20 unidades de Itaipu somam 14 mil megawatts (MW) de potência instalada, com 700 MW por turbina.

O diretor-geral enfatizou que a empreitada não está automaticamente ligada a um estudo sobre o aumento do nível máximo do reservatório no Rio Paraná, o que implicaria em ampliar a área alagada. “Nós temos comunidades, tem os efeitos sobre a população. Uma coisa é você construir uma usina na ditadura militar [1964-1985]. Outra coisa é você construir uma usina agora”, comentou, referindo-se aos impactos sociais e ambientais.

 

Horizonte de longo prazo e modelo de financiamento

Apesar de considerar a ampliação “inevitável” pela demanda crescente, Enio Verri ressalta que o projeto ainda não possui viabilidade econômica para sair do papel no curto prazo. “Hoje não viabiliza”, disse, sem apontar um horizonte específico para a realização do projeto. “Estamos discutindo só a data em que estaremos maduros o suficiente para esse investimento”, acrescentou, destacando que “no setor de energia, não existe curto prazo”.

Verri acredita que, quando o projeto for concretizado, o investimento deverá ser financiado por meio de empréstimos de longo prazo de instituições de fomento, como o Banco Mundial ou o BNDES. A forma de pagamento dessa dívida, segundo ele, poderia ser por meio de uma pequena taxa na tarifa de luz.

 

Mudanças em 2027 e impacto no Brasil

Um fator crucial que diminuirá a disponibilidade de energia paraguaia para o Brasil é um acordo binacional que entrará em vigor em 2027. A partir dessa data, o país que tiver excedente de energia poderá dar o destino que quiser a ela, incluindo a venda no mercado livre de energia brasileiro ou até mesmo para terceiros países. “Cada um pode fazer o que quiser com essa energia no seu país”, resumiu Enio Verri.

No entanto, o diretor-geral de Itaipu minimiza os reflexos do maior consumo paraguaio na geração total de energia no Brasil, citando o avanço brasileiro em outras fontes de energia renovável. “Estamos crescendo a oferta de intermitente [solar e eólica, por exemplo] também. Aliás, no Nordeste temos excesso de oferta intermitente. Então, não me parece que seja um grande problema”, avalia.

Itaipu é um projeto binacional, com 50% de participação para cada país, o que se estende ao consumo de energia, decisões e cargos de direção. Desde 1985, o excedente de energia de um país é vendido a preço de custo ao sócio. Em 2024, o Brasil consumiu 69% e o Paraguai, 31%, um cenário que está em rápida mudança.

Fonte em Foco. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, assessorias de imprensa e colaboradores