“Era um vício. Dava vontade de ficar mexendo o tempo todo”, relembra Priscila Henriques Lopes da Silva, de 14 anos, sobre a relação que tinha com o celular. A colega Sophia Magalhães de Lima, também de 14, confirma que a mudança foi positiva: “Hoje em dia não dá tanta vontade. A gente percebe que não precisa do celular para se divertir”.
As duas são alunas do Ginásio Educacional Olímpico (GEO) Reverendo Martin Luther King, na Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro. Desde o início de 2024, a escola passou a adotar a lei municipal que proíbe o uso de celulares nas salas de aula, antecipando a medida federal que entrou em vigor em todo o país em 2025.
Notas em alta e foco nas aulas
Entre os estudantes, os relatos apontam para mudanças significativas. “Quando podia usar o telefone, eu ficava o dia inteiro no celular, em vez de prestar atenção. Depois que proibiu, minha nota subiu lá em cima! Matemática, principalmente”, conta Tauana Vitória Vidal Fonseca, de 15 anos.
O colega Enzo Sabino Silva Cascardo, de 15 anos, lembra que antes da proibição até o recreio era dominado pelas telas. “Ninguém conversava, era todo mundo de cabeça baixa no celular.”
Famílias como parceiras
A diretora Joana Posidônio Rosa admite que, no início, houve resistência. “Tinha aluno que se recusava, tinha aluno que brigava comigo. Mas a adesão das famílias foi fundamental. Recebemos relatos de que, em casa, a situação também estava difícil.”
Impacto no comportamento
O professor de história Aluísio Barreto da Silva relata que alguns alunos tinham reações extremas ao ter o celular recolhido, reflexo do período da pandemia. Ele, no entanto, destaca que em poucas semanas a mudança ficou evidente: “Os alunos voltaram a prestar atenção. Até os que sempre foram bons estavam sendo perdidos para o celular”.
A estudante Ana Julia da Silva, de 14 anos, admite que a mudança foi além das notas: “Antes eu fazia muita bagunça e até postei vídeo de uma briga. Hoje entendo que errei. Meu comportamento melhorou muito”.
Mais socialização e menos bullying
O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, afirma que os resultados já são visíveis. “A escola voltou a ser um espaço de interação social. A medida reduziu casos de bullying e cyberbullying, além de tornar o ambiente mais acolhedor.”
Para ele, a experiência é um exemplo de como o poder público pode apoiar famílias no enfrentamento dos desafios digitais. “Defendo que as redes sociais só sejam permitidas a partir dos 16 anos. Esse deve ser o próximo passo”, concluiu.

