O Brasil tem potencial para dobrar a produção e o consumo de biocombustíveis (etanol, biodiesel e bioquerosene) até 2050, alcançando uma redução de 92% nas emissões de gases do efeito estufa sem a necessidade de desmatamento. A conclusão é do estudo Biocombustíveis no Brasil: Alinhando Transição Energética e Uso da Terra para um País Carbono Negativo, lançado nesta quarta-feira (8) pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), com apoio do Observatório do Clima (OC).
O grande achado da pesquisa é que o país pode expandir a bioenergia utilizando apenas uma fração dos vastos pastos degradados existentes.
Bioenergia na Amazônia Sem Desmatamento
O estudo mapeou cerca de 56 milhões de hectares de pastagens degradadas que podem ser recuperadas para a agricultura. Deste total, entre 20 a 35 milhões de hectares seriam suficientes para atender à crescente demanda por biocombustíveis e alcançar uma economia negativa em carbono até 2050.
“O grande achado do estudo é que a gente tem cerca de 56 milhões de hectares de pastagens degradadas que podem ser recuperadas para a agricultura,” afirmou Felipe Barcellos, pesquisador do Iema.
A estratégia combina a transição energética com a segurança alimentar, garantindo que a produção de matéria-prima para bioenergia não avance sobre áreas naturais ou de produção de alimentos.
Investimento em Produtividade e Diversificação
Para que o cenário se concretize, os pesquisadores recomendam a ampliação de políticas públicas que incentivem a recuperação de pastagens e o monitoramento rigoroso das áreas. O setor privado, por sua vez, deve focar no aumento da produtividade e na diversificação da matéria-prima.
Entre as sugestões estão:
- Etanol de Segunda Geração: Aumentar a produtividade do etanol usando o bagaço da cana-de-açúcar, e não apenas o álcool da primeira geração.
- Agrofloresta e Espécies Nativas: Usar a macaúba, por exemplo, em modelos de agrofloresta para a produção de biodiesel, evitando a degradação do solo causada por monoculturas de soja e milho.
Subsídio para o Debate da COP30
Segundo Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, o estudo é uma ferramenta crucial para o debate sobre a transição energética na América Latina, especialmente com a proximidade da COP30 em Belém, em novembro.
Os pesquisadores defendem que, no caso do Brasil, o uso difundido de biocombustíveis é uma das soluções mais imediatas e viáveis para reduzir as emissões no setor de transporte, preenchendo a lacuna de curto prazo deixada pela eletrificação de frotas.

