Indígenas, ribeirinhos e movimentos sociais de várias regiões do país lançaram a Caravana da Resposta, uma mobilização que vai percorrer mais de 3 mil quilômetros entre Mato Grosso e Belém (PA) até a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30). A jornada tem como objetivo denunciar os impactos da monocultura e dos grandes corredores logísticos do agronegócio sobre a Amazônia e o Cerrado.
Mobilização pela rota da soja
Mais de 300 participantes — entre povos indígenas, agricultores familiares e representantes de organizações socioambientais — seguirão pela chamada “rota da soja”, passando por cidades afetadas pelo avanço das commodities e por grandes obras de infraestrutura. O trajeto inclui atos públicos, manifestações culturais e diálogos com comunidades tradicionais ao longo do caminho.
A etapa final, já na capital paraense, será feita por barco, que também servirá como alojamento coletivo e cozinha solidária para os participantes durante a COP30. A iniciativa pretende se contrapor ao modelo econômico exportador, que, segundo os organizadores, “concentra riquezas, destrói florestas e ameaça modos de vida”.
Aliança Chega de Soja
A caravana é organizada pela Aliança Chega de Soja, uma articulação criada em 2024 e que reúne mais de 40 organizações ambientais, indígenas e de direitos humanos. O movimento tem como meta barrar megaprojetos como a Ferrogrão, uma ferrovia planejada para ligar Sinop (MT) a Itaituba (PA), destinada ao escoamento da produção de grãos.
Segundo a Climate Policy Initiative (CPI), da PUC-Rio, o empreendimento pode causar o desmatamento de até 49 mil km² de floresta. O projeto está suspenso por decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), após um pedido de vista do ministro Flávio Dino.
Além da Ferrogrão, o movimento se posiciona contra os projetos de hidrovias dos rios Tapajós, Madeira e Tocantins, defendendo um modelo de infraestrutura voltado às pessoas, e não ao lucro. A pauta inclui ainda o fortalecimento da agroecologia, da pesca artesanal e da sociobiodiversidade como alternativas sustentáveis.
Voz dos povos da floresta
“Não vamos permitir que o interesse de grandes corporações destrua nossos rios e florestas. Querem transformar nossos rios em hidrovias mortas e entregar nossas terras aos ricos que lucram com a soja. Mas nós vamos defender nossos territórios, porque disso depende o futuro de todo mundo”, declarou Alessandra Munduruku, liderança indígena e uma das vozes centrais da mobilização.
Rumo a Belém
O percurso de 14 dias será dividido entre estradas e rios, passando pela BR-163, conhecida como “rodovia da soja”, e navegando pelos rios Tapajós e Amazonas. As paradas incluem Miritituba e Santarém, onde as caravanas realizarão ações conjuntas com as comunidades locais.
Em Belém, os participantes se integrarão à Cúpula dos Povos e à COP do Povo, mobilizações paralelas à COP30 que buscam reforçar o protagonismo dos povos indígenas e tradicionais na construção de uma agenda climática justa e inclusiva.

