O Dia da Consciência Negra (20) transcende a celebração e serve como um convite para reconhecer as trajetórias de resiliência e propósito. No Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), administrado pelo IgesDF, profissionais negros da saúde compartilham suas jornadas, reafirmando o valor da representatividade e do cuidado em um dos maiores hospitais do Distrito Federal.
As histórias demonstram como desafios pessoais e a perseverança foram cruciais para a construção de carreiras sólidas, que hoje sustentam a qualidade do atendimento oferecido à população.
Letícia Marinho de Oliveira: Reencontro com o propósito
Letícia Marinho de Oliveira, formada em direito, teve sua trajetória marcada por um recomeço após a anulação de um concurso público para o qual havia estudado intensamente. Ela precisou se reinventar, buscando uma carreira que a religasse ao seu propósito.
O esforço universitário exigiu que ela viajasse 200 km por dia para estudar, acordando às 4h30 da manhã. Com apoio familiar, Letícia é a segunda pessoa da família a ter o ensino superior (após a mãe) e afirma: “A certeza de que somos capazes é o que me motiva a seguir avançando.”
Dartway Santhiago: Representatividade na enfermagem
Embora sonhasse inicialmente com medicina, Dartway Santhiago encontrou sua plenitude na enfermagem, reconhecendo que a essência do seu sonho sempre foi o cuidado.
Como homem negro, Dartway carrega o orgulho e a missão da representatividade. Ele integra uma família de quatro irmãos, todos homens negros e com formação superior, sendo o único na área da saúde. “Ocupar o espaço que estou hoje é motivo de muita honra,” valoriza, consciente de seu papel em inspirar e abrir caminhos para as futuras gerações.
Flávia Miranda de Jesus: A força do recomeço
A trajetória da colaboradora Flávia Miranda de Jesus, 52 anos, é um testemunho de coragem. Após ser desmotivada por um profissional com a frase “Você não tem competência técnica”, ela, já formada em propaganda e marketing, decidiu recomeçar e investir na área de farmácia aos 40 anos.
Flávia enfrentou ceticismo, mas encontrou apoio na família. Hoje, ela celebra ser a primeira de sua família a conquistar o ensino superior, levando consigo uma história de reconstrução e afirmação.
Ronaldo Lima Coutinho: Da dor à vocação
A vocação de Ronaldo Lima Coutinho para a enfermagem nasceu de uma experiência dolorosa: um grave acidente na adolescência que o deixou internado por mais de um mês, onde recebeu o acolhimento da equipe de enfermagem.
Para pagar a faculdade, Ronaldo manteve uma rotina intensa de dois empregos e venda de lanches. Ele destaca a resiliência como guia: “Sempre haverá quem tente te desmotivar, mas nunca permiti que elas [barreiras] fossem motivo para desistir”. Assim como Flávia, ele é o primeiro de sua família a ter ensino superior e sente gratidão diária pela oportunidade de ajudar.

