A ciência brasileira busca um novo caminho: integrar o conhecimento ancestral de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais às soluções tecnológicas de enfrentamento às mudanças climáticas. A proposta, segundo o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Luiz Antonio Elias, é reconhecer o valor desses saberes e aproximá-los da pesquisa científica moderna.
“A capacidade de aprendermos com a ancestralidade e com os conhecimentos tradicionais é inegável”, afirmou Elias em entrevista à Agência Brasil. “Eles já contribuíram muito em áreas como biodiversidade e saúde. A ciência precisa respeitar e incorporar esses saberes nos códigos de propriedade intelectual e na repartição de benefícios.”
A Finep, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), é responsável por financiar projetos de pesquisa e inovação no país. Às vésperas da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que ocorrerá de 10 a 21 de novembro em Belém (PA), o tema ganha ainda mais relevância.
Identidade científica e soberania nacional
Para Elias, o Brasil tem uma oportunidade única de afirmar sua identidade científica soberana, baseada na valorização da Amazônia e na liderança em transição ecológica e energética.
“Temos condições de mostrar ao mundo nossa capacidade de fazer as transições ecológica, socioambiental e energética, com base no bioma Amazônia, que é essencial para o equilíbrio global”, disse o economista, de 72 anos, que também é pesquisador do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).
O dirigente destacou que o país tem papel estratégico na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), formada por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
Segundo ele, essa integração regional será vital para consolidar políticas públicas robustas de enfrentamento à crise climática.
Agenda verde e inovação tecnológica
Embora a agenda climática não seja o único foco da Finep, Elias reconhece que a transição ecológica é hoje um eixo central das políticas da instituição.
Entre as prioridades estão projetos de descarbonização, hidrogênio verde, energias renováveis e o fortalecimento da indústria nacional com menor impacto ambiental.
A Finep também atua no Complexo Industrial da Saúde, na exploração sustentável da biodiversidade brasileira e em minerais estratégicos, áreas que ganham destaque diante das novas dinâmicas geopolíticas internacionais.
“Nosso desafio é tornar o investimento em inovação mais efetivo, reduzindo custos de produção e agregando valor à manufatura brasileira”, explicou.
Finep com mais recursos e papel de Estado
Elias destacou ainda a recuperação do orçamento da Finep, impulsionada por uma mudança de postura do atual governo.
Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Luciana Santos (MCTI) promoveram uma “inflexão radical” no financiamento à inovação.
Com a aprovação da Lei 15.184/2025, a Finep passou a acessar o superávit financeiro antes represado, o que garantiu R$ 22 milhões adicionais em crédito.
“A Finep nunca esteve tão bem quanto agora. O objetivo é transformá-la em uma política de Estado, com impacto real na inclusão e no mundo do trabalho”, concluiu Elias.
A presença da Finep na COP30, ao lado de instituições científicas e sociais, será uma vitrine da capacidade brasileira de unir ciência, ancestralidade e inovação na busca por soluções sustentáveis para o planeta.

