O câncer de mama não é uma luta apenas de células: é uma batalha que atinge a autoestima, os sonhos e o sentido da vida. No Dia Mundial de Combate ao Câncer de Mama, celebrado neste domingo (19), o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), unidade gerida pelo IgesDF, destaca a importância do tratamento que vai além da técnica, ancorado na empatia e no acolhimento.
Essa força é vivida por Regina Sousa Bispo, de 53 anos, que levou sete meses para ter o diagnóstico confirmado por biópsia, após exames de imagem inconclusivos. “Quando ouvi o resultado, foi como se tivessem me dito: você vai morrer. Eu vivia com uma faca no pescoço”, lembra.
No Hospital de Base, Regina passou por uma mastectomia radical e enfrentou a quimioterapia. “Você sai da cirurgia e não se reconhece. Perdi o cabelo, oito dentes, o corpo mudou. Mas, aos poucos, com o apoio da equipe, eu fui voltando a me enxergar com carinho”, conta. Hoje, em remissão, ela segue acompanhamento rigoroso e resume sua nova filosofia: “Se eu tiver só um dia de vida, quero vivê-lo bem, maquiada e de cabeça erguida”.
A mesma determinação move Valquíria Espíndola, de 47 anos, que está prestes a concluir a quimioterapia após descobrir a doença por meio do autoexame. “O pessoal me acolheu muito bem. As meninas da Rede Feminina, os médicos, todos me deram apoio. No Centro de Infusão, o carinho é constante. É isso que nos dá coragem para seguir”.
O Cuidado Que Transforma
A gerente geral de assistência do Hospital de Base, Fernanda Hak, reforça que o cuidado humanizado é o diferencial: “A técnica é essencial, mas é o cuidado que transforma. As cicatrizes e os fios que voltam a crescer são só parte da história. O que floresce mesmo é a coragem de recomeçar”.
Esse acolhimento é promovido, em parte, pelo Programa Humanizar do IgesDF, que conta com a colaboradora Arlene da Conceição Vilela. Arlene, que descobriu o câncer em 2018, sabe o poder da palavra amiga. “Eu sei o que é ouvir aquele diagnóstico e sentir o mundo parar. Por isso, faço de tudo para tratar cada paciente com amor. Um sorriso e uma palavra amiga nos ajudam a curar a alma”, afirma.
Perto dali, a Rede Feminina de Combate ao Câncer, sediada no Hospital de Base e coordenada por Larissa Bezerra, atende cerca de mil pacientes por mês. A entidade mantém 40 projetos, oferecendo doação de perucas, próteses mamárias, sutiãs adaptados e lenços.
Larissa explica que o trabalho vai além do material: “Muitas chegam arrasadas, sem saber como vão enfrentar a doença. Nosso papel é mostrar que a vida continua, que há beleza, vaidade e amor mesmo no meio do tratamento”. A doação de uma peruca, por exemplo, pode “devolver identidade e autoestima”.
Com os avanços no tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), as chances de cura aumentaram, e o Hospital de Base garante a celeridade no início do processo. A chefe de enfermagem do ambulatório onco-hematológico, Larissa Dias, explica que, se a paciente chega com o diagnóstico, muitas vezes a quimioterapia é encaixada para o dia seguinte.
O diferencial da unidade, segundo ela, é o olhar integral: “Não é só sobre o medicamento. É sobre orientar, conversar, explicar efeitos colaterais, oferecer suporte psicológico e nutricional. É sobre estar presente em cada fase. Mas o que realmente transforma é o cuidado humano, o olhar atento, o toque gentil. Isso é o que cura de verdade”.

