A região metropolitana de São Paulo enfrenta mais um apagão que já dura três dias e mantém mais de 10% dos moradores sem energia elétrica desde a passagem de um ciclone com ventos que ultrapassaram 100 km/h. A ausência de respostas efetivas da Enel ampliou o desgaste, levou a protestos e trouxe de volta relatos de desamparo, prejuízo financeiro e falta de informação — um roteiro que se repete pela segunda vez em menos de um ano para parte da população.
No início da noite desta quinta-feira (11), moradores da chamada Vila da Biquinha, às margens da Via Anhanguera, interditaram completamente a pista sentido capital. O protesto, realizado por volta das 19h, foi a forma encontrada por famílias que seguem sem luz, água e condições mínimas de segurança para enfrentar a madrugada.
Para quem vive em outras regiões da capital, o cenário não é diferente. No Jardim Orly, zona sul, a professora Leila Lasnaux está sem energia desde as 10h de quarta-feira (10). Ela descreve o cotidiano como “caótico”, com a família de quatro pessoas adotando soluções improvisadas para preservar alimentos e manter celulares ligados. Uma árvore caída, ainda não removida pela prefeitura, derrubou a fiação. A Enel esteve no local, mas não fez reparos, alegando falta de remoção da árvore. Segundo os moradores, o equipamento continuava no chão até as 18h desta quinta.
Leila relembra que o bairro enfrentou situação semelhante em novembro de 2024, quando ficou cinco dias sem luz. Agora, teme que o apagão se repita na mesma intensidade. Em sua casa, o portão elétrico dificulta a entrada e saída do carro, e a perda de alimentos já alcança carnes, peixes e verduras. Para manter a rotina mínima, a família comprou um gerador de baixa potência, que só permite carregar celulares e oferecer curtos períodos de refrigeração à geladeira.
No Butantã, a roteirista Erica Chaves enfrenta dilema semelhante. Sem energia desde as 12h de quarta-feira, ela relata que a Enel alterou ao menos cinco vezes a previsão de retorno do serviço. Sem conseguir carregar o celular em casa, procurou alternativas na vizinhança — encontrando até bases da Guarda Municipal sem energia. Segundo afirma, a dificuldade de comunicação e as previsões desencontradas geram sensação de “descaso”.
A situação também atinge condomínios grandes, que dependem de geradores. No Raposo Tavares, a síndica Regina Mantovani administra sete torres com áreas comuns no escuro e quase mil unidades afetadas. Ela relata dificuldade até para abastecer os geradores a diesel, já que parte dos postos está sem energia para operar bombas. Em sua rotina, já foram necessárias várias viagens para garantir combustível suficiente para poucas horas de funcionamento. A internet instável a impede até de trabalhar de casa.
Segundo Regina, a Enel mais uma vez mudou a previsão de atendimento, agora empurrada para a meia-noite desta sexta (12). Ela afirma que o reparo, no caso de seu condomínio, envolve apenas “ligar uma chave no transformador”, mas faltam equipes. Em algumas ligações, diz que nem atendimento recebeu.
A Enel foi procurada pela Agência Brasil, mas não respondeu até a conclusão desta matéria.
O apagão, somado à lentidão no atendimento e à falta de informações básicas, reacende o debate sobre a capacidade de resposta da concessionária em situações extremas. Moradores citam sensação de abandono, repetição de falhas e dificuldade de organizar a rotina — um retrato que parece cada vez mais comum em momentos de crise no fornecimento de energia em São Paulo.

