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domingo, 7 dezembro 2025, 15:52:06
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Brumadinho: 70% dos lares adoecem sete anos após tragédia

Publicado em:

Repórter: Paulo Andrade

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Daqui a pouco menos de dois meses, o rompimento da barragem de rejeitos Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, vai completar sete anos. Na tragédia, 272 pessoas morreram, outras ficaram desaparecidas e rios e comunidades sofreram impactos causados por um desastre socioambiental sem precedentes. A Vale era a responsável pela barragem.

Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), feito por pesquisadores do Projeto Brumadinho, indica que 70% dos domicílios do município relataram algum tipo de adoecimento físico ou mental — um número que escancara que os impactos sobre a saúde continuam estruturais e persistentes até hoje.

Sintomas como estresse, insônia, ansiedade, hipertensão e episódios depressivos continuam recorrentes, enquanto 52% dos adultos passaram por tratamento psicológico ou psiquiátrico desde a tragédia. O cenário também envolve piora de doenças crônicas e aumento da demanda por acompanhamento especializado. Ao mesmo tempo, 76% dos domicílios enfrentam dificuldades para acessar consultas, exames e tratamentos, em meio a uma rede pública pressionada pelo volume de atendimentos e pelas mudanças na mobilidade local.

O medo invisível que contamina a rotina

A insegurança sanitária marca a rotina. Segundo o levantamento, 77% das famílias vivem com medo constante de contaminação dos alimentos — um terror silencioso que atravessa a mesa de jantar, a horta do quintal e a água que sai da torneira.

“Recebemos a pesquisa com muita tristeza, pois ela confirma que a população de Brumadinho continua sofrendo. Temos relatos de familiares que desenvolveram diabetes, lúpus, câncer, dermatites crônicas e problemas de coração, além do crescimento do uso de ansiolíticos que também é visível”, afirma Nayara Porto, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum).

O estudo aponta a permanência de metais pesados — manganês, arsênio, chumbo, mercúrio e cádmio — em diferentes matrizes ambientais. A água permanece como principal vetor de risco: 85% dos domicílios relatam impactos no uso dos corpos d’água, enquanto 75% afirmam que o fornecimento e a qualidade estão comprometidos.

A “lama invisível” que não seca

A chamada “lama invisível”, conceito que traduz a desconfiança sobre o consumo de bens produzidos em Brumadinho, ainda está presente no cotidiano. Para Josiane Melo, diretora da Avabrum, o território continua marcado pela instabilidade.

“É inadmissível conviver com insegurança hídrica, adoecimento e medo tantos anos depois [do desastre]. O estudo só comprova que a vida não voltou ao lugar“, diz Josiane.

O termo “lama invisível” resume a contaminação que não se vê, mas se sente: a desconfiança sobre a água, o alimento, o ar. É o terror de que o veneno esteja ali, escondido no que deveria ser fonte de vida. É a sensação de viver em um território marcado, onde a normalidade virou luxo.

Perda bilionária que não desaparece

As perdas econômicas também são expressivas. Segundo o professor Ricardo Machado Ruiz, um dos autores do estudo, Brumadinho poderia perder entre R$ 7 bilhões e R$ 9 bilhões de Produto Interno Bruto (PIB) no longo prazo sem o acordo firmado em 2021. Com a aplicação dos recursos, o prejuízo estimado cai para algo entre R$ 4,2 bilhões e R$ 5,4 bilhões, mas não desaparece.

O pesquisador explica que a mineração desempenhava papel central na economia local e que, após o rompimento, a estrutura produtiva passou a depender da reparação, que absorveu trabalhadores e reduziu efeitos imediatos, mas enfraqueceu pequenos negócios e atividades informais. O futuro, afirma, depende de diversificação econômica.

“Se nada for feito para substituir aquela atividade mineradora, ainda restará essa perda bilionária dentro do município”, finaliza Ruiz.

O estudo deixa claro: Brumadinho não se recuperou. A lama secou na superfície, mas a contaminação — física, mental, econômica — permanece viva. E a pergunta que fica no ar é a mesma de sete anos atrás: quem paga por isso?

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