O Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) lançou, na tarde desta quinta-feira (11), a Nota Técnica nº 2 — Caminhos do Cerrado na Alimentação Escolar do DF, com apoio da Embrapa Cerrados. O evento reuniu gestores públicos, nutricionistas, pesquisadores, agricultores familiares e representantes da sociedade civil, consolidando um debate técnico sobre nutrição, sustentabilidade e desenvolvimento territorial.
A publicação integra o projeto Caminhos da Restauração: Valoração de Produtos Florestais Não Madeireiros do Cerrado, uma parceria entre o IPEDF, a Secretaria do Meio Ambiente do DF (Sema-DF) e o Fundo Único de Meio Ambiente do Distrito Federal (Funam-DF). O documento foi elaborado como um instrumento prático para orientar a inserção de produtos do Cerrado nos cardápios das redes públicas e conveniadas de ensino.
Alinhamento com a política de alimentação escolar
O lançamento contou com a presença do diretor-presidente do IPEDF, Manoel Clementino, além de diretores do instituto e representantes de diversas secretarias do Governo do Distrito Federal (GDF). A iniciativa dialoga diretamente com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que determina que pelo menos 45% dos recursos da alimentação escolar sejam destinados à agricultura familiar, incluindo produtos da sociobiodiversidade.
Segundo o diretor de Estudos e Políticas Ambientais e Territoriais do IPEDF, Werner Vieira, o estudo representa um marco estratégico. De acordo com ele, o DF passa a contar com uma referência técnica para orientar políticas públicas, fortalecer a agricultura familiar e contribuir de forma concreta para a conservação do Cerrado, um dos biomas mais ricos e ameaçados do país.
Frutos do Cerrado como protagonistas
A nota técnica destaca frutos nativos do Cerrado, como pequi, baru, jatobá, cagaita e mangaba, reconhecidos pelo alto valor nutricional, com vitaminas, proteínas e minerais. Além de ampliar a qualidade das refeições, o documento aponta o papel educativo desses alimentos, que aproximam estudantes da cultura alimentar local e reforçam a importância da preservação ambiental.
Como parte da elaboração do estudo, uma equipe do IPEDF visitou experiências bem-sucedidas em Cavalcante (GO), Alto Paraíso (GO) e Arinos (MG). Em Alto Paraíso, por exemplo, chamadas públicas passaram a incluir produtos como castanha de baru, farinha de jatobá e polpa de pequi, com adesão expressiva de produtores tradicionais e assentados da reforma agrária.
Desafios para a implementação no DF
O encontro foi encerrado com um debate coletivo orientado pela pergunta: quais são os desafios do Distrito Federal para efetivar o Cerrado na alimentação escolar? Entre os principais obstáculos identificados estão o desconhecimento sobre o bioma e sua sociobiodiversidade, a falta de integração entre nutricionistas, merendeiras e gestores, a ausência dos produtos do Cerrado nos editais de compras públicas e a carência de equipamentos adequados para conservação e processamento dos alimentos nas escolas.
Para o IPEDF, a publicação representa um passo estratégico para que o DF utilize o poder de compra institucional como ferramenta de política pública. A expectativa é garantir refeições mais nutritivas aos estudantes, fortalecer a economia local e ampliar a conservação do Cerrado por meio da alimentação escolar.

