A aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso abriu uma disputa política e simbólica em Brasília. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a ser pressionado por entidades e artistas para que a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) seja ocupada por uma mulher — algo que não acontece há mais de uma década.
Em 134 anos de história, o Supremo teve 172 ministros, mas apenas três mulheres chegaram à Corte. Nenhuma delas era negra, lacuna que reacende o debate sobre representatividade de gênero e raça no mais alto tribunal do país.
Histórico de sub-representação feminina
A pioneira foi Ellen Gracie, nomeada em 2000 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Além de abrir caminho para outras mulheres, ela também se tornou a primeira presidente mulher do STF, cargo que exerceu entre 2006 e 2008.
Seis anos depois, Lula nomeou Cármen Lúcia, que segue como única mulher na atual composição do Supremo e deve permanecer até 2029, quando completa 75 anos.
A terceira foi Rosa Weber, escolhida em 2011 pela ex-presidente Dilma Rousseff. Ela se aposentou em 2023 e foi substituída por Flávio Dino, atual ministro indicado por Lula.
Mobilização social e carta pública
Organizações da sociedade civil divulgaram uma carta aberta pedindo que Lula rompa o ciclo masculino no Supremo. O texto é assinado por entidades como o Fórum Justiça, a Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos e a Plataforma Justa, e afirma que “não é por falta de excelentes nomes de mulheres que o presidente deixará de indicar uma ministra para a Suprema Corte”.
As organizações elencaram 13 nomes de possíveis candidatas, entre elas Maria Elizabeth Rocha, atual presidente do Superior Tribunal Militar (STM), e Edilene Lobo, ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ambas possuem trajetórias sólidas e reconhecimento jurídico nacional.
Vozes públicas e pressão cultural
O movimento também ganhou eco no meio artístico. A cantora Anitta usou as redes sociais na terça-feira (14) para cobrar a presença feminina no STF.
“Existem mulheres qualificadas para o cargo num país onde a maioria da população é mulher”, escreveu, reforçando o tom de mobilização popular.
Apesar das manifestações, os nomes mais cotados para a vaga seguem sendo homens: o advogado-geral da União, Jorge Messias, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o ministro do TCU, Bruno Dantas, e o chefe da CGU, Vinícius Carvalho.
A escolha de Lula vai além da composição do tribunal: será um sinal político sobre o compromisso do governo com a diversidade. Após anos de debates sobre paridade de gênero e representação racial no Judiciário, uma nova nomeação masculina reforçaria a imagem de uma Corte distante da realidade social brasileira, onde as mulheres são maioria da população — mas minoria no poder.

