A florada das árvores de sapucaia (Lecythis pisonis), que coloriu o Distrito Federal nos últimos dias com um tom avermelhado intenso, esconde uma curiosidade botânica. O que muitos observadores pensam ser flores, na verdade, são folhas jovens brotando com coloração rosada, rubra ou arroxeada antes de assumirem o tom verde definitivo.
Esse espetáculo visual, que destaca a diversidade da arborização do DF, é causado pela presença de pigmentos chamados antocianinas. Tais pigmentos são produzidos pelas folhas jovens para protegê-las contra a radiação ultravioleta e o estresse ambiental, enquanto seus tecidos ainda estão delicados.
A brotação das folhas coincide com o período real de floração da sapucaia, que ocorre entre setembro e outubro, quando surgem as verdadeiras flores lilases da espécie.
A sapucaia é nativa do Brasil e é comumente encontrada em áreas arborizadas do Plano Piloto, especialmente ao longo dos eixões Norte e Sul. Por se adaptar bem ao clima do Cerrado, a espécie integra o plano anual de arborização da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).
O vigilante Fernando José da Silva, que trabalha próximo a uma sapucaia, relatou a surpresa ao descobrir o fenômeno. “Achei muito interessante, eu não sabia que as folhas brotavam avermelhadas. Ela chama muita atenção na paisagem, principalmente no meio da cidade”, comentou.
Além da beleza, a sapucaia produz frutos lenhosos que levam de 11 a 12 meses para amadurecer e liberar sementes comestíveis, semelhantes à castanha-do-pará. Por ser uma Planta Alimentícia Não Convencional (Panc), suas sementes são nutritivas e consumidas torradas, em farinhas ou doces, principalmente em comunidades tradicionais.

