O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a tratar com dureza dos recentes casos de feminicídio que chocaram o país e pediu uma resposta direta dos homens para enfrentar a cultura de violência de gênero. A fala ocorreu nesta terça-feira (2), em Ipojuca (PE), durante o lançamento das obras de expansão da Refinaria Abreu e Lima (Rnest).
Lula relatou que os episódios o abalaram profundamente, assim como a primeira-dama, Janja Lula da Silva, que teria chorado repetidas vezes diante das notícias. “Queria fazer um discurso para nós, homens. O que está acontecendo na cabeça desse animal, tido como o mais inteligente do planeta, para tanta violência?”, questionou o presidente.
Ele citou três casos ocorridos nos últimos dias: um ataque armado em uma pastelaria na zona norte de São Paulo; a tentativa de feminicídio de Tainara Souza Santos, atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro — crime que resultou na amputação das duas pernas; e o incêndio provocado pelo marido que matou a esposa grávida e quatro filhos, em Recife.
“Essa semana teve um cara que pegou duas pistolas e descarregou contra a mulher. Outro matou a mulher grávida, com três filhos, e tocou fogo na casa. Outro atropelou a mulher e arrastou ela por um quilômetro. A pergunta é: o Código Penal tem pena para um animal irracional como esse?”, afirmou Lula, em tom de indignação.
Presidente pede mobilização masculina: “Não existe pena suficiente”
Lula pediu que os homens assumam o protagonismo no combate à violência. Disse que é preciso educar filhos, amigos e colegas, e insistiu que nenhum relacionamento justifica agressão. “Se você não está bem com sua companheira, seja grande. Não bata nela. Se separe. Ela não é obrigada a ficar com você”, afirmou.
O presidente defendeu a criação de um movimento nacional de homens contra a violência, sugerindo uma campanha permanente. “A partir de agora, eu estou num movimento dos homens que vão conscientizar esse país de que homem não nasceu para bater em mulher, para estuprar criança ou fazer violência. Levante a mão quem está comigo nessa luta.”
Violência em alta: feminicídios crescem em São Paulo
Os casos citados por Lula refletem um cenário preocupante. Só em São Paulo, 207 mulheres foram mortas desde janeiro, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Em outubro, houve 22 feminicídios e 5.838 registros de lesão corporal dolosa contra mulheres — números que reforçam o padrão de violência baseado em controle, posse e agressões cíclicas.
Especialistas destacam que o feminicídio é o ponto final de um histórico de violência doméstica que, muitas vezes, poderia ter sido interrompido com políticas de prevenção, atendimento adequado e redes de proteção mais estruturadas.
Investimentos na Rnest avançam e ampliam capacidade nacional
O evento em Pernambuco marcou também o anúncio de R$ 12 bilhões em investimentos na Rnest, considerada a refinaria mais moderna da Petrobras. O pacote contempla a conclusão do Trem 2 e obras de manutenção no Trem 1, o que elevará o processamento diário para 260 mil barris até 2029.
A refinaria deve atender cerca de 17% da demanda nacional de diesel, além de produzir gasolina, GLP e nafta, ampliando a capacidade estratégica da estatal na região Nordeste.
Contexto ampliado
A fala de Lula ocorre em meio a pressão crescente de movimentos de mulheres e organismos internacionais por políticas mais robustas para enfrentar a violência de gênero. O Planalto avalia novas ações de prevenção, mas destacou que mudanças culturais dependem da mobilização da sociedade — especialmente dos homens, público-alvo central do discurso do presidente.

