back to top
24 C
Brasilia
quinta-feira, 11 dezembro 2025, 12:15:54
Publicidade
Publicidade

Seis meses a Glauber e o teatro previsível da Câmara

Publicado em:

Reporter: Marta Borges

Notícias relacionadas

Regularização de terras rurais no DF beneficia 780 famílias

O Governo do Distrito Federal (GDF) intensificou o programa...

Teste de DNA-HPV para câncer de colo do útero no SUS

Nova tecnologia amplia chances de detecção precoce, reduz mortes...

Brasil inaugura biofabrica de mosquitos wolbachia

Brasil inaugura maior biofábrica do mundo para produção de...

Ações da Apex para mitigar tarifaço dos EUA

O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações...
Publicidade

Vamos combinar uma coisa logo de saída: o que aconteceu com Glauber Braga nesta quarta (10) não surpreende nem morador desavisado que caiu na Câmara só pra pedir informação. Brasília funciona nesse modo crônico de evitar extremos quando eles podem gerar mais dor de cabeça do que solução. E foi exatamente isso que entregaram: uma suspensão de seis meses, um “meio-termo” tão manjado quanto café requentado do Salão Verde.

Os números não deixam dúvida: 318 deputados preferiram suspender Glauber a comprar a confusão que seria cassá-lo. E por quê? Porque cassar exige convicção. Suspender exige só conveniência. E, cá entre nós, conveniência é a moeda dominante nesse mercado.

O cálculo político falou mais alto que o decoro

Antes que alguém ache que estou defendendo Glauber, calma. O chute em Gabriel Costenaro — segundo o deputado, motivado por ofensas à mãe que estava na UTI — virou munição pra tudo quanto é lado. O Conselho de Ética queria cassar; uma parte da Casa também. Mas o plenário percebeu um risco: insistir demais poderia resultar em absolvição total, o que seria um vexame institucional.

Daí veio a jogada ensaiada: Lindbergh Farias coloca na mesa uma punição alternativa. Os partidos farejam o movimento. PSD, MDB, PT, PP… todo mundo percebe que dá pra punir, posar de justo e ainda evitar desgaste. E assim Glauber virou um castigo simbólico ambulante.

A reação emocionada de Glauber… e a reação política dos outros

Glauber falou em “violência”, em tentativa de “calar mandato”, em perseguição. Em parte, compreensível: ninguém gosta de ver a própria cadeira balançando, ainda mais depois de ser tirado à força da Presidência da Câmara no dia anterior, numa cena digna de novela institucional.

No outro lado, Kim Kataguiri e Nikolas Ferreira foram pra cima dizendo que Glauber “mentiu”, que as imagens “não mostram nada” e que esse negócio de “defender a mãe” virou justificativa conveniente. Política pura. O tipo de discurso que não busca coerência — busca efeito.

A comparação com Carla Zambelli, citada por Jandira Feghali, também entrou no cardápio. Brasília não resiste a uma boa comparação torta.

O veredito real da Câmara

No fim, o que pesou não foi o chute, não foi o vídeo, não foi a mãe na UTI. O que pesou foi uma palavrinha só: precedente.

Cassação por agressão leve? O plenário sabe que já viu gente fazer pior com punições bem mais brandas. O Congresso adora fingir que tem régua, mas troca a régua toda semana.

Então, suspender Glauber por seis meses virou a solução para que:

  • ninguém parecesse leniente demais

  • ninguém parecesse radical demais

  • ninguém precisasse responder perguntas difíceis depois

Um clássico do Legislativo brasileiro, onde a linha entre justiça e autopreservação é tão fina quanto a paciência do eleitor.

O que fica depois disso

Glauber sai enfraquecido? Sim.
Volta inelegível? Não.
Perde capital político? Depende de como usar o drama.
A Câmara sai melhor? Difícil.

No fim, o episódio diz menos sobre Glauber e mais sobre como Brasília opera: sempre na fronteira entre a moralidade e o cálculo, sempre pronta pra converter um conflito político em um acordo que agrade a maioria — mesmo que não resolva nada.

E se amanhã surgir outro caso parecido, você já sabe: preparam café, convocam líderes, negociam, fazem discurso, e entregam mais um “meio-termo” embalado como justiça.

Newsletter

- Assine nossa newsletter

- Receba nossas principais notícias

Publicidade
Publicidade

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.