Moradora do bairro São Joaquim, em Itaboraí (RJ), a pastora Cássia Antunes tem dedicado sua vida à fé e à caridade. Em uma comunidade simples, de ruas ainda não asfaltadas, ela lidera uma igreja evangélica e presta apoio espiritual a famílias em crise, casais em conflito e pessoas em momentos difíceis.
Convertida há oito anos, Cássia deixou o espiritismo — tradição familiar — após enfrentar uma depressão. O primeiro contato com o evangelho foi na Igreja Universal do Reino de Deus. “Muitos falam mal, mas sou grata à Universal. Lá encontrei apoio, pastores amorosos e uma palavra que mudou minha história”, afirmou.
Cássia é parte de um movimento crescente no país. Segundo o Censo Demográfico 2022, os evangélicos são o grupo religioso que mais aumentou no Brasil: passaram de 21,6% da população em 2010 para 26,9% em 2022, representando mais de um quarto dos brasileiros.
Religião jovem e feminina
O avanço evangélico é especialmente expressivo entre os jovens. Na faixa dos 10 aos 14 anos, 31,6% se declararam evangélicos. A professora Christina Vital, socióloga da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que esse crescimento está ligado à capacidade das igrejas de dialogar com os interesses juvenis.
“As liturgias se adaptaram. A estética dos cultos, as teologias que valorizam o mérito e as perspectivas de ascensão social são atrativos. Os jovens, críticos ao Estado, encontram nas igrejas um caminho possível”, explicou.
As mulheres também têm forte presença no universo evangélico. Elas são 55,4% dos fiéis — percentual superior à própria representação feminina na população brasileira (51,8%). No espiritismo, esse número é ainda maior: 60,6%.
“Mulheres aderem mais ao espaço religioso por razões ligadas à formação de comunidade, redes de apoio e escolaridade”, analisa Vital.
Espaço de liderança para mulheres
A presença feminina também se reflete nas lideranças. A pastora Nilza Valéria, coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, afirma que a igreja é um espaço onde mulheres são valorizadas. “Na sociedade, mulheres, especialmente negras, precisam provar sua capacidade o tempo todo. Na igreja, somos reconhecidas sem precisar justificar nosso lugar”, afirmou.
Brasil segue majoritariamente católico
Apesar do crescimento evangélico, o país ainda tem maioria católica: 56,7% da população. No entanto, esse número vem caindo desde 1972. Em 2010, os católicos eram 65%. A maioria atual tem mais de 50 anos, indicando um envelhecimento da fé católica.
A distribuição regional também mostra contrastes: no Nordeste e no Sul, os católicos são maioria (63,9% e 62,4%, respectivamente). Já no Norte, os evangélicos lideram com 36,8%.
“O catolicismo tem raízes profundas no Nordeste, ligado à história das grandes famílias e à ocupação territorial. Já o movimento pentecostal tem origem mais forte no Norte”, explica Vital.
Outras religiões e tendência de mudança
Outros grupos religiosos também apresentaram variação. Os praticantes de religiões de matriz afro (como umbanda e candomblé) e outras tradições (judaísmo, budismo, esoterismo) cresceram de 2,7% para 4% entre 2010 e 2022.
Por outro lado, o espiritismo perdeu espaço. Em 2010, os espíritas eram 2,2% da população; hoje, são 1,8%.