Uma cena que poderia causar apreensão se transformou em uma oportunidade de conscientização ambiental no Lago Norte. O avistamento de uma onça-parda com dois filhotes circulando na zona rural da região, uma Área de Proteção Ambiental (APA), motivou um encontro essencial entre técnicos da área de fauna do Instituto Brasília Ambiental e a comunidade local. A mensagem foi clara e tranquilizadora: não há motivo para pânico, e a presença desses majestosos felinos é, na verdade, um indicador da boa qualidade ambiental do local.
A reunião, realizada na noite de quarta-feira (11) na sede da administração regional, buscou desmistificar o comportamento desses animais. Marina Motta, agente de Unidade de Conservação do instituto e líder do Projeto de Monitoramento de Médios e Grandes Mamíferos Silvestres, explicou que o ser humano não faz parte da dieta natural da onça-parda. Pelo contrário, “elas, na realidade, não oferecem nenhum perigo, por terem medo das pessoas. Aprenderam a fugir por vê-las como uma ameaça“, esclareceu, respondendo às preocupações dos moradores. Os animais, vistos especificamente entre as chácaras dos núcleos rurais Córrego do Urubu e Olhos d’Água, considerados corredores ecológicos, estão apenas “de passagem“, utilizando esses espaços como conectores ambientais para unidades de conservação maiores, onde encontram abrigo e condições de vida ideais.
A especialista enfatizou que a aparição de onças-pardas é um sinal positivo para o ecossistema, pois “onças buscam lugares de água limpa, bem-preservados, com bom clima, boa temperatura. Os grandes felinos são muito exigentes”. Mesmo sendo uma possibilidade rara, Marina orientou sobre o comportamento correto caso haja um encontro direto: manter a calma, não dar as costas para o animal e aguardar, pois a tendência é que ele siga seu caminho. Se necessário, o uso de aparelhos sonoros como apitos ou buzinas pode ajudar a afastar o animal. Para animais de criação, a recomendação é mantê-los em locais iluminados próximos à propriedade, ter cães de guarda e usar dispositivos sonoros.
A vice-governadora Celina Leão parabenizou a iniciativa do Brasília Ambiental, destacando o papel do órgão como “orientador, norteador das melhores práticas ambientais para a preservação da fauna do nosso Cerrado”. O presidente do Brasília Ambiental, Rôney Nemer, reforçou que o objetivo do encontro foi tranquilizar a população e garantir a preservação dos felinos, que têm um “papel fundamental para a manutenção do equilíbrio ecológico do nosso bioma“.
O administrador regional do Lago Norte, Marcelo Ferreira, endossou as palavras de Nemer, enfatizando a meta de promover uma convivência harmônica entre pessoas e animais. “Esperamos que, com esses esclarecimentos, não haja agressão, matanças dos animais silvestres. A orientação foi dada para uma maneira de convivência harmônica, já que o Lago Norte é composto por 19 zonas rurais, que são corredores ecológicos, portanto, esse é o caminho que os animais precisam fazer”, ressaltou. O trabalho de conscientização continuará, com um próximo encontro já planejado para abordar a convivência com os saruês, comuns na região.
O Brasília Ambiental segue monitorando a área com câmeras fotográficas e rastreamento de vestígios, mas reforça que essas medidas visam a propiciar condições seguras de mobilidade para os animais, e não sua captura. A presença desses felinos é um testemunho da riqueza natural de Brasília e da importância da preservação de seus corredores ecológicos.