Fortaleza virou o epicentro da cultura brasileira nesta semana. Até domingo (7), a capital cearense recebe o Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MICBR+Ibero-América), evento que reúne 600 profissionais em rodadas de negócios, incluindo 120 compradores — 65 deles estrangeiros — e 100 vendedores de todo o país.
O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), no coração da cidade, funciona como sede principal do encontro. São mais de cem atividades espalhadas por diversos pontos de Fortaleza: painéis de mercado, palestras, oficinas, showcases, apresentações artísticas, cozinha-show e mentorias especializadas voltadas ao mercado cultural.
América Latina no centro das conversas
Na abertura do evento, na noite de quarta-feira (3), a ministra da Cultura, Margareth Menezes, colocou o dedo na ferida: o Brasil precisa olhar mais para os vizinhos. Com representantes de Paraguai, El Salvador e Panamá presentes, a ministra defendeu o fortalecimento dos laços culturais na região.
“Nosso país faz fronteira com dez países da América Latina e cada vez mais a gente tem que entender que essa irmandade existe. É o que nos resta também, abrir essa frente, valorizar as nossas produções e esse grande legado de cultura que existe, não só no Brasil, mas em toda a América Latina”, afirmou Margareth.
A fala da ministra ganha peso quando se olha para o cenário global. O acordo entre Mercosul e União Europeia, que deve ser assinado pelo presidente Lula no dia 20 deste mês, abre portas inéditas para o setor cultural brasileiro e latino-americano.
“É uma grande porta que se abre pra nós. O setor cultural pode tirar grande proveito desse momento. Vai ser uma janela de oportunidades imensa de fazer negócios, de fortalecer. A Cultura é uma ponte, não tem fronteiras e nossa cultura é reconhecida e respeitada internacionalmente”, destacou a ministra.
União de esforços entre governos
A secretária de Cultura de Fortaleza, Helena Barbosa, reforçou que não dá pra pensar desenvolvimento cultural sem articulação entre os diferentes níveis de governo — municipal, estadual e federal.
“Não há outro caminho para o desenvolvimento da cultura se não for o caminho da união. Todas as nossas ações têm que ser pensadas de forma colaborativa. E temos encontrado no MinC essa parceria para essa construção”, afirmou Helena.
A ministra Margareth aproveitou para adiantar uma novidade: no dia 11 de dezembro, em São Paulo, será apresentada uma pesquisa inédita sobre a nova Lei Rouanet, realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV). “É uma política tão longeva, com 33 anos, e que é um mecanismo para materializar os programas culturais”, comentou.
Influenciadores e games entram na pauta oficial
Antes da abertura oficial, a ministra e membros do MinC receberam jornalistas e influenciadores para uma roda de conversa que trouxe temas que raramente aparecem na agenda cultural oficial: a regulamentação da profissão dos criadores de conteúdo digital e a participação feminina no setor de jogos eletrônicos.
Margareth reconheceu que o trabalho dos influenciadores e produtores de conteúdo digital é uma linha nova de atuação, mas que já está no radar do Ministério.
“Estamos trabalhando no ambiente digital com ações que podemos pensar. Conseguimos agora o reconhecimento da área da dança como profissional. Estamos trabalhando na área dos direitos autorais, inteligência artificial, plataformas. Estamos também pensando em um prêmio para influenciadores“, revelou a ministra.
Games: o setor que já nasce exportando
Pela primeira vez, o setor de games ganhou espaço institucional dentro do Ministério da Cultura, acolhido na Secretaria de Audiovisual. E os números justificam a atenção: o setor é responsável por exportações de 120 milhões de dólares por ano, segundo o secretário executivo do MinC, Márcio Tavares.
“É muito importante a agenda dos games. Pela primeira vez existe um espaço específico dentro do ministério tratando o setor como política pública. Já garantimos avanços importantes, como a entrada na Lei Rouanet e a capacitação para a gestão do audiovisual. É um setor que já começa exportando, porque está tudo conectado com as plataformas internacionais”, explicou Tavares.
A secretária do Audiovisual do MinC, Joelma Gonzaga, foi direta: o setor de games tem um “potencial enorme” e é “extremamente lucrativo”. Mas há um problema.
“O Brasil é um grande consumidor de games, mas ainda precisa ser uma liderança em produção no mundo. Por isso que a gente precisa de políticas para a economia criativa. Para fazer games precisamos de música, de narrativa, literatura. A gente consome muito game que vem de fora, mas a gente precisa contar as nossas histórias para o mundo“, disse Joelma.
Acordos internacionais no radar
A ministra Margareth também informou que o MinC está assinando acordos de colaboração com a França para fortalecer a cadeia do audiovisual, além de parcerias com Singapura e Nigéria para abertura de novos mercados.
O MICBR+Ibero-América segue até domingo (7), com programação diversa que inclui debates sobre o poder das narrativas, criatividade e território, sustentabilidade e futuro da cultura, inovação e convergência midiática, impacto social das artes, modelos de criação e circulação, além das transformações tecnológicas que estão moldando o mercado cultural brasileiro.

