O saguão do Aeroporto Internacional de Brasília virou cenário de reencontros carregados de emoção. Entre abraços apertados, cartazes improvisados, flores e cestas de chocolates, familiares aguardavam a volta dos participantes do Pontes para o Mundo, programa de intercâmbio do Governo do Distrito Federal (GDF) que levou 102 estudantes da rede pública para 17 semanas de imersão no Reino Unido. A estudante Letícia Carvalho, 17 anos, foi uma das primeiras a atravessar as portas do desembarque, exibindo o sorriso de quem viveu uma experiência que, segundo ela, “parecia de outro mundo”.
Recém-chegada de Chester, na Inglaterra, Letícia descreveu o college onde estudou como um ambiente multicultural e inspirador. “Tinha gente de muitos países. Todo mundo merece ver o mundo lá fora, ver o quão grande ele é. Quero fazer universidade no exterior, ser programadora e trabalhar para empresas internacionais”, contou a aluna do Centro Educacional Darcy Ribeiro, no Paranoá.
A mãe da estudante, Neide Carvalho, disse que a filha voltou transformada. “Ela chorou muito no embarque. Gostou tanto que agora quer morar lá. O programa foi maravilhoso. Eu só tenho a agradecer”, afirmou.
Os estudantes foram distribuídos em oito colleges espalhados pela Inglaterra, País de Gales e Escócia. Lá, aprimoraram o domínio do inglês, vivenciaram novas rotinas acadêmicas e tiveram contato direto com outras culturas. Para 2026, o governador Ibaneis Rocha já projeta um salto: serão 400 vagas e a inclusão de novos destinos, como Japão, Alemanha e Espanha. O chefe do Executivo também encaminhará à CLDF um projeto para tornar o programa permanente.
A secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, afirma que os jovens retornam mais maduros. “Aqueles meninos que embarcaram em setembro não são mais os mesmos. O crescimento é visível. Não só na proficiência em inglês, mas na autonomia e na autoconfiança”, observou. Ela reforça que o projeto segue em expansão. “Os CILs ensinam espanhol, francês, alemão e japonês. Há um universo enorme para ampliar o programa.”
Os primeiros 14 alunos desembarcaram na tarde de terça-feira (3). Entre eles estava Amanda Kayla Araújo, 16 anos, do Centro de Ensino Médio 304 de Samambaia, que voltou decidida sobre o futuro. “Tive a oportunidade de estudar psicologia, que já era meu interesse. Vou focar no vestibular no próximo ano”, contou. A mãe, Aline Araújo, descreveu o intercâmbio como um divisor de águas. “Foi incrível. Não teríamos condições de bancar algo assim por três meses. Ela realizou sonhos, conheceu várias cidades e voltou ainda mais inteligente e preparada.”
A seleção do Pontes para o Mundo envolve processo eliminatório e classificatório. É preciso ter entre 16 e 17 anos durante a viagem, estar matriculado na 2ª série do ensino médio regular ou na modalidade EPT e ter cursado integralmente a 1ª série em escola pública do DF, além de cumprir outros requisitos previstos no edital. Ao longo da semana, novos voos trarão os demais participantes da edição de 2025.
Em Samambaia Sul, a estudante Rafaela Bastos, 16 anos, do Centro de Ensino Médio 414 de Samambaia, contou que viver no exterior ampliou sua visão de mundo. “A gente estuda tanto inglês e, quando finalmente vai, é recompensador. Mudou minha vida. Conheci pessoas incríveis e vivi momentos que vou guardar para sempre”, disse. A mãe, Adriana Bastos, vê a experiência como essencial para o crescimento da filha. “A gente não pode tolher. Eles têm que ganhar o mundo. Tive minhas oportunidades, e eles também precisam ter as deles”, afirmou a cientista química.
O Pontes para o Mundo fecha mais um ciclo mostrando que, para muitos jovens do DF, a viagem começa no embarque — mas a verdadeira transformação só aparece na volta.

