O Governo do Distrito Federal (GDF) realizou nesta segunda-feira (9) uma nova operação de remoção de famílias que haviam retornado ao Setor de Inflamáveis (SIN), no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA). A ação ocorre menos de um mês após a desocupação inicial da área, vizinha a depósitos de combustíveis, que oferece risco iminente de explosões.
As autoridades alertam desde 2021 sobre os perigos do local. Relatórios do próprio Executivo apontam que ligações de energia precárias, estruturas de madeira e a constante incineração de materiais recicláveis próximas a tanques de combustíveis e outros materiais inflamáveis elevam drasticamente o risco de um acidente de grandes proporções. Há ainda a preocupação com disparos de arma de fogo contra estruturas de armazenamento e a proximidade com a linha férrea, onde crianças brincam sem supervisão.
A reocupação levanta um questionamento crítico sobre o planejamento habitacional do GDF, gerando fortes protestos da oposição. O pré-candidato ao Palácio do Buriti, Ricardo Cappelli (PSB), ex-interventor da Segurança Pública do DF, esteve no local e criticou a gestão.
“Conversei com as pessoas. Elas topam sair, mas precisam de uma alternativa, porque não têm para onde ir. Estão lá há bastante tempo. Será que não houve planejamento para garantir a elas o direito à moradia?”, questionou Cappelli. Ele também aponta a contradição de o governo considerar a área perigosa, mas autorizar a construção de um novo bairro, o Jóquei, a apenas 700 metros do Setor de Inflamáveis. “É um desrespeito às pessoas que estão sendo jogadas na rua, com crianças e idosos“, declarou.
Cappelli defende uma política habitacional robusta e cobra o destino do orçamento bilionário do DF. “A solução é uma política habitacional. O orçamento do Distrito Federal, deste ano, será de R$ 73 bilhões. Para onde está indo esse dinheiro? Os moradores topam sair”, afirmou. Ele também questiona a inação do GDF contra a grilagem de terras. “É uma covardia deixar o grileiro agir e depois sair derrubando a casa das pessoas. Quem tem dinheiro não arrisca construir em área irregular, mas quem é pobre sim“, concluiu.
A operação de remoção desta segunda-feira, iniciada por volta das 10h, contou com a participação de diversos órgãos governamentais. Segundo um representante dos moradores, cerca de 20 famílias, das mais de 40 removidas em maio, haviam erguido novas edificações precárias. Em um acordo com os agentes do GDF, os próprios moradores retiraram seus pertences e desmontaram as estruturas, com o auxílio de máquinas para o que restou.
A principal justificativa dos moradores para o retorno é a ausência de uma alternativa de moradia prometida pelo governo. Eles alegam que os alojamentos públicos são inadequados e o auxílio-aluguel é insuficiente para os custos de vida no Distrito Federal. “As pessoas não tinham para onde ir. Elas estavam aqui ao relento e os barracos só foram erguidos porque estavam sob chuva e sol, até que fossem levadas para outro lugar“, desabafou uma moradora.
A expectativa era de transferência para a região conhecida como Tamanduá, no Recanto das Emas, ou para São Sebastião, onde já existem moradias do programa Morar Bem – Minha Casa, Minha Vida. No entanto, segundo os moradores, nenhuma das opções foi concretizada.
Em nota, a Secretaria de Proteção à Ordem Urbanística (DF Legal) informou que a operação visava evitar a reocupação da área de risco já desobstruída no mês passado, quando 50 edificações irregulares foram desfeitas. A pasta reiterou que as famílias receberam ofertas de apoio, incluindo aluguel social, abrigo temporário e moradia no Núcleo Rural Tamanduá, e que os órgãos de assistência estavam presentes na operação atual para oferecer benefícios.