O Cine Odeon, no centro do Rio de Janeiro, foi palco de uma noite de consagração neste domingo (12). O encerramento da 27ª edição do Festival do Rio reuniu artistas, produtores e cinéfilos em uma celebração que reafirmou a vitalidade e a pluralidade do cinema brasileiro.
Apresentada pelos atores Clayton Nascimento e Luisa Arraes, a cerimônia marcou o retorno dos prêmios de voto popular e consagrou produções nacionais que dialogam com temas de identidade, diversidade e resistência.
Durante dez dias, o festival exibiu mais de 300 filmes e atraiu cerca de 140 mil pessoas, número recorde que consolida o evento como um dos maiores encontros audiovisuais da América Latina.
“O Festival do Rio segue como um espaço essencial para o cinema brasileiro e para o encontro entre realizadores e plateia. É uma festa da diversidade de olhares e vozes do audiovisual”, afirmou a diretora Ilda Santiago.
Neste ano, o protagonismo foi totalmente brasileiro. Das produções exibidas, 120 eram nacionais, refletindo o fôlego criativo do setor em um momento em que o país ainda celebra o Oscar de Ainda Estou Aqui.
O Troféu Redentor de Melhor Longa de Ficção ficou com “Pequenas Criaturas”, da diretora Anne Pinheiro Guimarães, de Brasília. Emocionada, ela destacou o caráter pessoal da obra: “Esse prêmio é da equipe toda. O filme nasceu quando me tornei mãe. É sobre maternidade, saudade e o tempo.”
A distribuidora Adriana Rattes comemorou o impacto do público: “Pequenas Criaturas chegou discretamente e conquistou corações. É uma honra distribuir um filme tão delicado e potente.”
Na categoria Melhor Documentário, o prêmio foi para “Apolo”, de Tainá Müller e Ísis Broken. Em sua estreia na direção, Tainá destacou o simbolismo do reconhecimento: “Apolo fala sobre diversidade e sobre dar voz a quem é marginalizado. Ganhar esse prêmio no Dia das Crianças tem um significado imenso.”
O longa “Ato Noturno”, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, levou Melhor Roteiro e o Prêmio Félix de Melhor Filme Brasileiro. Klara Castanho venceu como Melhor Atriz por #SalveRosa, enquanto Gabriel Faryas levou Melhor Ator por Ato Noturno.
Entre os documentários, “Cheiro de Diesel”, de Natasha Neri e Gizele Martins, recebeu o Prêmio Especial do Júri e o Voto Popular.
As homenagens também emocionaram o público. Leandra Leal e Ângela Leal foram premiadas por Nada a Fazer. “Este filme é uma declaração de amor à minha mãe e à fé que tenho na arte como transformação”, disse Leandra.
Já Ana Flavia Cavalcanti, vencedora por Criadas, dedicou o troféu à mãe: “Minha mãe fez muita faxina para eu estar aqui. Este prêmio é dela também.”
A diversidade marcou presença. Diva Menner, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por Ruas da Glória, afirmou: “Sou uma travesti preta e dedico este prêmio às minhas ancestrais que não tiveram as mesmas oportunidades.”
A presença feminina foi destaque em quase todas as categorias. Diretoras como Suzanna Lira, Mini Kerti e Cíntia Domit Bittar reafirmaram a potência das narrativas conduzidas por mulheres.
“Ver o público novamente abraçando o cinema brasileiro é uma felicidade imensa”, comemorou Suzanna, que venceu o voto popular de Melhor Longa de Ficção.
Nos bastidores, o clima era de celebração. Para Anna Luiza Müller, assessora de imprensa desde a retomada do cinema nacional nos anos 1990, o entusiasmo foi renovado: “A energia em torno dos filmes brasileiros está de volta. O desafio agora é garantir continuidade e ampliar o alcance.”
O ator Vinícius de Oliveira, revelado em Central do Brasil, retornou ao festival com o longa internacional Quase Deserto, rodado em Detroit. “É emocionante estar aqui tantos anos depois, com o mesmo amor pelo cinema brasileiro”, disse.
No âmbito internacional, o Prêmio Félix Internacional foi para A Sapatona Galáctica (Lesbian Space Princess), das australianas Leela Varghese e Emma Hough-Hobbs, enquanto o brasileiro Allan Ribeiro venceu com Copacabana, 4 de Maio.
Com sessões esgotadas, debates e encontros de mercado no RioMarket, o Festival do Rio encerrou-se reafirmando seu papel como espaço de resistência e celebração da arte nacional.
“O Festival é mais do que uma vitrine — é um espaço de encontro e de celebração do cinema brasileiro”, resumiu Walkiria Barbosa, uma das diretoras do evento.
A 27ª edição do Festival do Rio confirma a retomada do cinema brasileiro após anos de retração no setor. Mais do que prêmios, o evento simboliza a reconstrução da indústria audiovisual e o reconhecimento de novas vozes e olhares. Em um cenário político e cultural em transformação, o festival se mantém como termômetro da liberdade criativa e do poder do cinema como instrumento de identidade e resistência.

