Um livro tecido pela experiência direta das infâncias que vivem sob ocupação. Assim nasce Não Vou Escrever Poesia e Outros Textos, obra escrita por crianças palestinas durante oficinas realizadas em diversos territórios da Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jerusalém e Hebron. Os textos e ilustrações, agora publicados no Brasil, chegam como um convite à escuta — e como um gesto político de preservação dessas memórias.
Segundo o coletivo Editoras Pela Palestina, que coordena a edição brasileira, o objetivo é despertar empatia, solidariedade e consciência entre crianças e jovens no Brasil. O livro já está disponível para compra e todo o lucro será destinado ao Instituto Tamer, organização que atua com educação e cultura nos territórios palestinos. A versão brasileira pode ser adquirida exclusivamente no site Palavras.
Vozes de um cotidiano interrompido
A criação da obra envolveu mais de 80 crianças, orientadas pelo escritor palestino Hani al-Salmi e pela artista Hana Ahmad, que conduziram atividades de reflexão, diálogo e escrita. Os textos resultantes circularam entre crianças de diferentes cidades palestinas, um intercâmbio raro em razão dos bloqueios de circulação impostos por Israel, reforçando laços que a geopolítica tenta romper.
A proposta central do livro é simples e poderosa: permitir que as próprias crianças descrevam como vivem, sentem e imaginam o mundo. Para Laura Di Pietro, diretora editorial da Tabla, ouvir essas vozes é um ato urgente. Ela destaca que apenas quem vive a ocupação pode relatar, com profundidade, o cotidiano marcado por ataques, escassez e restrições. “Está mais do que na hora de escutar os palestinos em todas as suas manifestações”, afirmou.
Uma série dedicada às infâncias palestinas
A obra integra a série Crianças do Mar e das Laranjas, dedicada a registrar as memórias infantis em meio à violência e à guerra. Não Vou Escrever Poesia e Outros Textos é o terceiro volume, sucedendo Lembranças das Crianças do Mar (2014) e O que Aconteceu com o Eid? (2022). A coleção, publicada pela editora Tabla, especializada em literatura árabe, reforça a importância de preservar essas narrativas diante de um cenário que frequentemente silencia ou distorce a voz das crianças palestinas.

