Sindicatos, trabalhadores e lideranças políticas realizaram nesta sexta-feira (18) uma manifestação na região da Rua 25 de Março, em São Paulo, em repúdio à recente interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nos assuntos internos do Brasil. O protesto teve como estopim a abertura de uma investigação comercial por parte do governo norte-americano, que acusou a área de favorecer a pirataria e a venda de produtos falsificados.
A mobilização também criticou a decisão de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto, além de declarações ofensivas de Trump sobre o sistema econômico nacional e até mesmo sobre o Pix, ferramenta de pagamento instantâneo brasileira.
Comércio popular na mira
Organizado pelo Sindicato dos Comerciários de São Paulo (SECSP) e pela União Geral dos Trabalhadores (UGT), o ato reuniu faixas, cartazes e palavras de ordem como “Brasil acima da mentira!” e “Emprego sim, chantagem não!”. Os participantes se concentraram em frente a lojas da tradicional região comercial, denunciando o que chamam de ataque à soberania nacional e tentativa de chantagem econômica por parte dos EUA.
Cartazes com a imagem de Trump estampada com a palavra “mentiroso” foram distribuídos pelo sindicato e espalhados em pontos movimentados, como as estações de metrô Anhangabaú e República. A ação buscou mobilizar tanto trabalhadores quanto consumidores da região central da capital paulista.
Investigações, tarifas e acusações
O governo dos EUA colocou o Brasil em um relatório do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), utilizando a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 para justificar a imposição das tarifas. O dispositivo permite sanções a países considerados praticantes de comércio desleal.
Além das tarifas, Trump pediu publicamente o arquivamento da ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), o que aumentou as tensões políticas e econômicas entre os dois países.
Para o presidente do SECSP e da UGT, Ricardo Patah, a postura do norte-americano representa “uma interferência inaceitável na economia e na democracia brasileira”.
“Sou descendente de libanês e cresci na 25 de Março. Acompanhei de perto toda a sua transformação. Mudaram as mercadorias, os povos, as línguas, mas a importância da região como polo de comércio popular nunca mudou. Representamos aqui mais de 5 mil trabalhadores e trabalhadoras, que não aceitam ser prejudicados por um lunático que quer interferir na nossa economia e na nossa democracia”, afirmou Patah.
Segundo ele, os sindicatos não aceitarão demissões ou instabilidade provocadas por ameaças externas, defendendo que “é o povo brasileiro quem deve decidir o rumo do país, não um presidente estrangeiro que já demonstrou desprezo pelas instituições e pela verdade”.
Apoio sindical e dados da balança comercial
Além do SECSP e da UGT, o protesto teve a presença de representantes de diversas entidades sindicais, como CTB, Força Sindical, Metalúrgicos de Guarulhos, Condutores de SP, Construção Civil SP, Cargas Próprias, Sintratel, Sindnap, motoboys, vigilantes, dirigentes partidários do PCdoB e trabalhadores da própria região comercial.
O sindicato ressaltou que, nos últimos 15 anos, os Estados Unidos acumularam um superávit de US$ 410 bilhões na balança comercial com o Brasil, o que contradiz as alegações de prejuízos feitas por Trump:
“O Brasil tem sido um parceiro leal, responsável e essencial para o equilíbrio comercial nas Américas”, enfatizou o SECSP.