A presença contínua de projetos de conservação marinha por mais de duas décadas eleva em até 20% a consciência ambiental das populações costeiras. O dado integra um estudo inédito conduzido pelo Programa Maré de Ciência, da Unifesp, em parceria com a Rede Biomar, que reúne os projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Coral Vivo, Golfinho Rotador e Meros do Brasil. A pesquisa ouviu 1.803 pessoas em maio, sendo 1.501 com contato prévio com ao menos um dos projetos e outras 302 sem qualquer conhecimento das iniciativas.
Segundo Tatiana Neves, fundadora do Projeto Albatroz, a diferença de percepção mostra que o público exposto a ações de conservação tende a buscar mais informações e a se mobilizar. Para ela, o desafio agora é transformar preocupação ambiental em engajamento prático, etapa que guiará os próximos estudos da rede até 2030, no contexto da Década da Ciência Oceânica da ONU.
O coordenador do Maré de Ciência, Ronaldo Christofoletti, destaca que o impacto está ligado ao tempo de atuação dos projetos. Regiões com iniciativas presentes há mais de 20 ou 30 anos apresentam melhora clara no conhecimento local. Ele defende que as estratégias de educação ambiental sejam adaptadas ao perfil de cada comunidade, respeitando diferenças regionais, linguísticas e geracionais.
A pesquisa também indica que falta clareza sobre quais ações podem ser incorporadas ao cotidiano. Entre os exemplos citados estão a redução do uso de plástico descartável, a preferência por produtos sustentáveis e a participação em mutirões de limpeza. Tatiana afirma que os projetos agora trabalharão para apresentar caminhos concretos à população.
Na avaliação de Christofoletti, políticas públicas como o Currículo Azul — que integra educação oceânica ao ensino brasileiro — são vitais para formar gerações mais conscientes. Ele defende que grandes projetos de conservação, como os da Rede Biomar, precisam de investimentos de longo prazo para provocar mudanças estruturais em comportamento e percepção ambiental.
Os resultados também evidenciam que 88% das pessoas que conhecem os projetos buscam informações sobre o oceano, taxa 23% maior que a do grupo controle. Além disso, 82% dos entrevistados se mostram dispostos a mudar hábitos em benefício do oceano, e mais de 90% afirmam querer atuar como agentes de mudança, índice superior ao registrado entre aqueles que não conhecem as iniciativas.
Criada em 2007, a Rede Biomar atua ao longo do litoral brasileiro com ações científicas, educativas e comunitárias. Já o Programa Maré de Ciência, criado em 2012 pela Unifesp, é referência em educação oceânica e popularização científica, conectando escolas, pesquisadores, comunidades e gestores públicos em projetos de sustentabilidade e conservação marinha.

