No lado brasileiro da usina hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), uma usina de biogás e biometano está revolucionando a gestão de resíduos e a produção de energia limpa. O local, operado pelo Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), transforma matéria orgânica em combustível renovável, dando um destino inovador a produtos apreendidos pela Receita Federal e Polícia Federal.
A parceria com órgãos como a Receita Federal, Polícia Federal (PF) e Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) permite que mercadorias confiscadas de contrabando e descaminho – como feijão, milho, vinho, açúcar, azeite e café – sejam processadas. Felipe Marques, diretor de Estratégias de Mercado do CIBiogás, revela que mais de 400 tipos de resíduos já foram mapeados para essa finalidade.
Biodigestão: De resíduo a combustível renovável
O coração da biousina é um enorme tanque vedado onde ocorre a biodigestão. Nesse processo, a matéria orgânica é transformada em biogás, um gás combustível renovável que contribui significativamente para a redução da emissão de gases do efeito estufa, combatendo o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Marques explica que o biometano, derivado do biogás, tem características semelhantes ao gás natural e se iguala ao etanol em termos de emissão de gases. “O biometano sendo usado para substituir diesel causa um impacto muito grande em termos de redução de emissões”, afirma.
Além das apreensões federais, o biodigestor de Itaipu também recebe resíduos de restaurantes do complexo. A planta processa meia tonelada de rejeitos por dia, com capacidade para até uma tonelada diária. Desde 2017, já foram processadas 600 toneladas de resíduos.
Produção e potencial de abastecimento
A biousina produz cerca de 200 metros cúbicos (m³) de biogás e 100 m³ de biometano por dia, o suficiente para abastecer diariamente dez carros. Desde 2017, a unidade já forneceu 41,3 mil m³ de biometano, possibilitando 484 mil quilômetros rodados.
Entre os materiais já processados, destacam-se:
- 22 toneladas de leite em pó da Índia.
- 75 toneladas de cacau da Tailândia.
- 9 mil litros de azeite.
- 5,5 toneladas de leite em pó.
- 870 litros de vinho.
Geovani Geraldi, da Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico do CIBiogás, explica a importância de dosar os resíduos para garantir a qualidade do biogás e biometano. “Farinha produz muito biogás, mas não tanto assim de metano. Então, eu preciso dosar a farinha com mais calma do que azeite de oliva, que produz muito biogás e é rico em metano”, exemplifica.
O potencial do biometano de Itaipu já atraiu o interesse da Petrobras, que demonstrou intenção de adquirir o combustível para impulsionar o mercado no Brasil. Além disso, os resíduos do processo também podem gerar biofertilizantes, usados na irrigação e recuperação de áreas degradadas.
Inovação e futuro: SAF na COP 30
A partir da biodigestão das apreensões, a unidade do CIBiogás está desenvolvendo o bio-syncrude, um óleo sintético que pode ser utilizado na produção de SAF (Combustível Sustentável de Aviação). O SAF tem o potencial de reduzir significativamente as emissões de gases do efeito estufa em comparação com o querosene de aviação tradicional.
Itaipu Binacional planeja apresentar uma demonstração do óleo sintético durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que ocorrerá em novembro, em Belém. Há uma parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) para refinar o bio-syncrude e transformá-lo em SAF, reforçando o compromisso de Itaipu com a inovação e o aumento da geração de energia renovável.