Moradores da Favela do Moinho, na região central de São Paulo, protestaram na Avenida Paulista, na tarde desta terça-feira (16), contra demolições, despejos e violência associados ao processo de remoção da comunidade. As famílias exigem solução imediata de moradia, a suspensão das demolições e criticam audiências na Justiça Federal realizadas sem a escuta dos moradores.
Segundo os manifestantes, o acordo entre os governos federal e estadual — que condiciona a saída das famílias à garantia de moradia definitiva — não estaria sendo cumprido. Em manifestações nas redes, moradores relatam a presença frequente de tratores e a destruição de casas, enquanto parte das promessas segue pendente.
Uma das reivindicações centrais é a regularização do atendimento a todas as famílias. De acordo com Caio Castor, repórter e ex-morador da comunidade, a CDHU já cadastrou 177 famílias, mas há pendências documentais, além de outras 70 aguardando inclusão. Para ele, as demolições continuam mesmo com pessoas vivendo no local, o que contraria o pacto firmado.
Castor informou ainda que a Defensoria Pública do Estado ajuizou ação civil pública para interromper as demolições enquanto houver moradores no Moinho e famílias sem atendimento. Há casos de quem já saiu e recebe aluguel social, mas sem moradia definitiva, enquanto as remoções prosseguem. Ele também criticou a condução das audiências de conciliação, alegando falta de escuta direta da comunidade.
Uma ex-moradora, que preferiu não se identificar, disse à Agência Brasil que deixou o Moinho após 20 anos por medo da repressão durante os despejos. Ela recebe auxílio-moradia e vive na zona norte, ainda sem casa definitiva. A moradora relatou ansiedade e afirmou ter acreditado na promessa de realocação “chave a chave” anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante visita à comunidade. Para ela, o impasse virou disputa política, sem respostas concretas às famílias.
Histórico do conflito
Desde abril, o governo estadual iniciou remoções sob o argumento de implantar o Parque do Moinho e a Estação Bom Retiro. A área pertence à União, e o governo de Tarcísio de Freitas solicitou cessão para o projeto. Em maio, um acordo entre União e estado fixou apoio financeiro de até R$ 250 mil por família para compra de imóvel (R$ 180 mil federais e R$ 70 mil estaduais), além de aluguel social de R$ 1,2 mil até a mudança definitiva. Em junho, Lula assinou a portaria do acordo no local.
No mês passado, o governo estadual informou que cerca de 700 famílias (aprox. 80%) já haviam saído; 140 estariam em moradia definitiva e 636 com destino definido e auxílio-moradia. Procurada, a Justiça Federal informou que realizou a quarta audiência do processo e que outras devem ocorrer. A CDHU afirmou que o reassentamento é voluntário, com 97% de adesão entre cerca de 880 famílias aptas, e que já realizou 770 mudanças, com apoio logístico e benefícios previstos.
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