Moléculas encontradas na peçonha de vespas sociais estão no centro de uma promissora pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) para desenvolver novos tratamentos contra doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson e Epilepsia. O projeto, coordenado pela professora Márcia Renata Mortari (vencedora do Prêmio FAPDF), utiliza abordagens bioinspiradas e nanotecnologia para criar fármacos mais eficazes e seguros.
As doenças neurodegenerativas representam um grande desafio de saúde pública, pois são condições progressivas sem cura definitiva.
Da natureza à nanotecnologia
A pesquisa parte da observação de que vespas, como a espécie Polybia occidentalis, usam seu veneno para paralisar presas, indicando a presença de compostos neuroativos. A equipe da UnB isolou e purificou esses compostos, focando em peptídeos — pequenas cadeias de aminoácidos que podem interagir de forma seletiva com o sistema nervoso.
Para garantir que esses peptídeos atinjam o cérebro, superando a barreira hematoencefálica, os pesquisadores integraram a nanotecnologia. Eles desenvolveram nanossistemas de liberação que:
- Protegem os peptídeos contra a degradação.
- Aumentam a estabilidade e a solubilidade.
- Favorecem a chegada ao cérebro, inclusive por administração intranasal (via de acesso mais direto).
Peptídeos inovadores e resultados expressivos
Três peptídeos bioinspirados apresentaram resultados significativos em estudos experimentais:
- Neurovespina: Investigada pelo potencial antiepiléptico e neuroprotetor. Já está em ensaios clínicos em cães com epilepsia refratária, em parceria com o Hospital Veterinário (HVet) do DF.
- Fraternina: Demonstra atividade neuroprotetora promissora em modelos de Doença de Parkinson, atuando em áreas como a substância negra.
- Octovespina: Capaz de interferir na agregação de beta-amiloide, a proteína associada ao desenvolvimento do Alzheimer.
A Neurovespina nanoencapsulada, por exemplo, demonstrou a mesma eficácia da substância livre e manteve a redução das crises epilépticas em longo prazo com apenas uma dose diária intranasal.
Impacto no DF e no setor de saúde
O projeto, apoiado pela FAPDF e CNPq (via Pronem), é conduzido por uma equipe multidisciplinar (neurocientistas, farmacologistas, nanotecnologistas) e utiliza métodos de avaliação de segurança (in vitro, in vivo e bioinformática) para prever riscos e garantir a qualidade do futuro fármaco.
O estudo posiciona o Distrito Federal no cenário da biotecnologia baseada em peptídeos, com potencial para gerar inovação, patentes e formação de recursos humanos especializados. A aplicação dos resultados pode transformar o manejo de doenças neurológicas refratárias, reduzindo a frequência de crises, melhorando a autonomia e a qualidade de vida de pacientes humanos e animais.

