Um grupo de cientistas da Universidade de Brasília (UnB) deu um passo importante na compreensão dos mecanismos que impulsionam o crescimento e a progressão do câncer. O projeto, intitulado “Estudo da via PI3K/AKT/mTOR e avaliação dos efeitos biológicos dos inibidores de mTOR em carcinomas de cabeça e pescoço”, recebeu fomento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) e revelou achados promissores sobre novas estratégias terapêuticas.
Coordenado pela professora Eliete Neves da Silva Guerra, titular da UnB e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, o estudo foi conduzido no Laboratório de Histopatologia Oral da Faculdade de Ciências da Saúde, em parceria com o Hospital Universitário de Brasília (HUB), a Unicamp e a Universidade de Michigan (EUA).
Entendendo a via PI3K/AKT/mTOR
A pesquisa investigou, em amostras de pacientes brasileiros, o papel da via PI3K/AKT/mTOR — um conjunto de proteínas que regula o crescimento, a proliferação e a sobrevivência celular. Alterações nessa via estão associadas à formação e à agressividade de vários tipos de câncer.
“Nosso objetivo foi compreender como essa via atua em tumores de cabeça e pescoço e testar compostos capazes de modular sua atividade”, explica a professora Eliete Guerra. “Esses estudos abrem caminho para terapias mais individualizadas e menos tóxicas.”
O apoio da FAPDF garantiu infraestrutura laboratorial de ponta, equipamentos de alta precisão e integração entre equipes nacionais e internacionais. Segundo o diretor-presidente da Fundação, Leonardo Reisman, a iniciativa ilustra a importância do investimento público em ciência aplicada:
“Quando um estudo local amplia o conhecimento sobre o câncer e indica novas terapias, estamos investindo em resultados concretos — em qualidade de vida e no futuro da ciência brasileira”, afirma.
Resultados e impacto científico
Foram analisadas 26 amostras tumorais humanas provenientes do banco de tecidos do HUB, obtidas de pacientes com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço, o tipo mais frequente nessa região.
As análises revelaram alta expressão das proteínas PI3K, AKT e mTOR, combinada à redução da PTEN, que atua como “freio biológico” no crescimento celular. Esse padrão confirma a ativação tumoral da via e aponta novos alvos terapêuticos.
Nos experimentos in vitro, conduzidos com linhagens celulares humanas SCC-9 (língua) e FaDu (hipofaringe), foram empregadas técnicas como qPCR, Western blot, MTT e citometria de fluxo para medir viabilidade, ciclo celular e apoptose.
Entre os compostos testados, a curcumina — substância natural derivada do açafrão-da-terra — apresentou atividade antitumoral expressiva, reduzindo a viabilidade celular e bloqueando o ciclo na fase G2/M, impedindo a multiplicação das células cancerígenas.
“Os resultados reforçam o potencial terapêutico da curcumina como modulador natural da via PI3K/AKT/mTOR”, destaca Eliete. “Ela representa um caminho promissor para biofármacos de origem vegetal e para a medicina personalizada.”
Formação e avanços
O projeto também contribuiu para a formação de novos pesquisadores: resultou na defesa de duas teses de doutorado e na publicação de quatro artigos científicos internacionais.
“O fomento público é essencial para transformar ciência em soluções reais para a saúde da população”, enfatiza a pesquisadora.
As próximas etapas incluem testes pré-clínicos em modelos animais e ensaios clínicos em humanos, que poderão validar a segurança e eficácia dos compostos estudados. A meta é consolidar o Distrito Federal como referência em ciência translacional e biotecnologia em saúde.

