Tarifaço dos EUA contra exportações brasileiras completa um mês com impasses e medidas de reação
O tarifaço imposto pelos Estados Unidos às exportações brasileiras completa um mês neste sábado (6), em meio a negociações frustradas, críticas diplomáticas e medidas de apoio ao setor produtivo.
O presidente norte-americano Donald Trump anunciou, em julho, tarifa de 50% sobre as exportações do Brasil, sob justificativa de déficit comercial e de suposta perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A medida entrou em vigor em 1º de agosto, mas excluiu cerca de 700 produtos, como aeronaves, suco de laranja e fertilizantes, que representam 44,6% das vendas brasileiras ao mercado americano.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o tarifaço atinge diretamente 35,9% das exportações, com impacto estimado de 3,3% no total das vendas externas do Brasil. Setores como siderurgia, fruticultura e calçados foram os mais prejudicados. O Ceará decretou situação de emergência e municípios como Petrolina (PE) e Franca (SP) alertaram para riscos de desemprego e perdas econômicas.
Diante da crise, o governo federal lançou o Plano Brasil Soberano, com R$ 30 bilhões em linhas de crédito e medidas tributárias para apoiar empresas exportadoras. O BNDES adicionou R$ 10 bilhões ao pacote.
Paralelamente, o Brasil acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC), acusando os EUA de violarem regras internacionais, e abriu caminho para aplicar a Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada em abril.
Apesar dos esforços, tentativas de diálogo com autoridades americanas emperraram. Reuniões foram canceladas, e o governo brasileiro atribui as dificuldades à articulação da extrema-direita ligada a Trump e a Jair Bolsonaro.
Mesmo assim, diplomatas e especialistas defendem a continuidade das negociações. Para o professor José Niemeyer, do Ibmec-RJ, a estratégia brasileira tem sido institucional e sem confronto direto, mas a disputa pode se prolongar.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reforçado o discurso de soberania nacional. “Não aceitaremos desaforos nem ofensas de ninguém”, disse em reunião ministerial, embora tenha sinalizado disposição para seguir negociando.

