Um relatório recente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) acendeu um alerta global: uma em cada cinco meninas e meninos entre 5 e 19 anos está acima do peso. A obesidade infantil já atinge quase 391 milhões de jovens no mundo, superando a desnutrição pela primeira vez.
Enquanto a subnutrição caiu de 13% em 2000 para 9,2% em 2025, a obesidade triplicou, chegando a 9,4% no mesmo período. No Brasil, a situação é igualmente preocupante, com o índice de obesidade entre jovens de 5 a 19 anos saltando de 5% para 15% até 2022.
Consequências e causas da obesidade infantil
O pediatra Luis Henrique, do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), explica que o aumento do peso está ligado a dois fatores principais: o consumo de produtos industrializados e o sedentarismo. “Alimentos congelados, embutidos e prontos para consumo acabam sendo mais baratos e práticos do que frutas, verduras e carnes. Isso, somado ao tempo excessivo em frente às telas, faz cada vez mais crianças ganharem peso”, observa.
As consequências, segundo o médico, são graves e precoces:
- Saúde física: aumento de casos de diabetes tipo 2, hipertensão, problemas ortopédicos e doenças cardiovasculares em crianças e adolescentes.
- Saúde mental: bullying e baixa autoestima.
A nutricionista Ingrid Oliveira, também do HRSM, reforça que a mudança deve começar na família. Ela recomenda priorizar alimentos naturais e locais, reduzir o consumo de industrializados e fast food e, principalmente, dar o exemplo. “Não adianta impor restrições se os adultos não forem referência”, afirma.
Brasil é exemplo, mas precisa avançar
O relatório do Unicef destaca o Brasil como exemplo positivo por políticas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que restringe ultraprocessados em escolas, e a rotulagem frontal de alimentos. No entanto, o avanço da obesidade indica que são necessárias ações ainda mais eficazes para reverter o quadro.
A nutricionista lembra que os efeitos da má alimentação vão além do peso. “Nosso corpo não foi feito para lidar com tantos produtos artificiais. Eles afetam não só a saúde física, mas também hormônios, ossos e até o humor de crianças e adolescentes”, conclui.

