“Vivi muito o Parque da Cidade e ainda vivo.” A frase, dita por uma das frequentadoras mais assíduas, parece simples, mas traduz algo maior: o parque é um organismo vivo. Aos 47 anos, o Parque da Cidade Sarah Kubitschek continua sendo o pulmão físico e emocional de Brasília, um ponto onde a cidade ainda se permite desacelerar.
Mais do que um símbolo urbanístico, ele é um ritual coletivo de pertencimento. Em meio à rotina acelerada e ao concreto da capital, o espaço criado por Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Athos Bulcão e Burle Marx se mantém fiel à sua vocação original: oferecer equilíbrio entre a cidade planejada e o ser humano real que nela vive.
As reformas recentes, promovidas pelo Governo do Distrito Federal (GDF), refletem um esforço de reconexão entre estrutura e essência. Com iluminação 100% em LED, banheiros reformados, novas rampas de acessibilidade, recuperação da Ponte dos Cadeados e a volta da Piscina com Ondas, o parque parece renascer sem perder sua alma. Foram R$ 18,2 milhões em investimentos, mas o resultado vai além das cifras: é a preservação de uma memória coletiva.
O administrador Todi Moreno diz que o foco agora é a padronização dos quiosques e o cuidado com o projeto original. “Queremos um material mais ecológico e harmonizado, sem descaracterizar o parque”, explicou. Essa postura resume uma lição que Brasília insiste em aprender: modernizar sem apagar o traço do passado.
Para quem frequenta o espaço diariamente, as melhorias são visíveis — e sensoriais. A treinadora Márcia Rosa, que dá aulas de corrida há mais de uma década no local, vê nas mudanças um ganho de vitalidade. “A iluminação ficou ótima. Treinar cedo ficou mais seguro. E a divisão entre pedestres e ciclistas trouxe paz às manhãs”, avalia.
Há também quem viva do parque, como o quiroprático Leonardo Nunes, que trabalha ali desde 2002. Ele lembra que o lugar “não é apenas cenário, é sustento”. E talvez aí resida a força do Parque da Cidade: ser ao mesmo tempo espaço público e extensão da vida privada dos brasilienses.
O secretário de Esporte e Lazer, Renato Junqueira, resume bem: o parque é “o coração do esporte e do lazer do DF”. Mas ele é mais que isso. É também o território da memória afetiva, o refúgio do trabalhador, o palco das histórias comuns que costuram o tecido invisível da capital.
No fim das contas, Brasília envelhece, mas o Parque da Cidade amadurece. Cada reforma é uma espécie de respiração assistida — uma tentativa de fazer o tempo passar devagar. E, entre uma corrida e outra, entre um piquenique e uma lembrança, ele segue ensinando algo essencial: a cidade pode ser planejada, mas a vida, não.

