Agora sim, vamos conversar no bom e velho estilo Marta Borges: opinião afiada, ironia no ponto e respeito absoluto aos fatos.
Quando o ministro Alexandre de Moraes, do STF, anulou a votação da Câmara dos Deputados que tentou salvar o mandato de Carla Zambelli (PL-SP), ele não apenas virou a chave de um caso judicial. Ele deu um tapa de realidade no plenário que, mais uma vez, achou que podia reinterpretar a Constituição como quem troca a estação do rádio.
A Câmara rejeitou a cassação, é verdade. Mas rejeitou baseada em quê? Em vontade política. E vontade política, meu caro leitor, não costuma sobreviver ao encontro direto com um acórdão transitado em julgado. Moraes apenas apontou para o óbvio jurídico: quem decide perda de mandato após condenação definitiva é o Judiciário. Ao Legislativo cabe o papel burocrático de declarar. É quase como explicar para adulto que regra é regra — e que criatividade hermenêutica tem limite.
O ministro determinou ainda a posse imediata do suplente Adilson Barroso (PL-SP) em até 48 horas. Um recado claro: o mandato não é souvenir nem blindagem corporativa. É função pública. E função pública tem consequência.
Mas essa história não começa no plenário. Começa em Roma, em julho, quando Zambelli foi presa tentando escapar de um mandado de prisão. Tentando o quê? Asilo político. Na Itália. Para fugir de uma condenação de 10 anos por ter sido, segundo as investigações, a mente por trás da invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça — uma ação que gerou até um mandado falso de prisão contra Moraes. Isso não é roteiro de filme B. Isso é o Brasil atual.
Walter Delgatti, o executor do hackeamento, confirmou ter agido a mando da parlamentar. A partir desse momento, o enredo deixou de ser debate político e virou caso de polícia — pesado, técnico e com farta documentação.
O governo brasileiro, previsivelmente, pediu a extradição, já enviada pelo Itamaraty ao governo italiano. A Justiça italiana vai bater o martelo no dia 18. E enquanto isso, aqui no Brasil, Moraes tenta recolocar a institucionalidade de pé, enquanto a Câmara tenta fingir que não está vendo o incêndio.
O mais impressionante é que ainda nos surpreendemos. Como se não fosse previsível que uma condenação dessa magnitude resultasse na perda do mandato. O absurdo não é a decisão do STF; o absurdo é ter sido necessário lembrar o Congresso do básico.
No fim das contas, a queda de Zambelli não é apenas queda. É um espelho. E o reflexo não está bonito.

