O turismo internacional em Brasília vive seu melhor momento em quase meio século. Entre janeiro e setembro de 2025, o Distrito Federal recebeu 80.966 turistas estrangeiros, um aumento de 75,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. O número já supera todo o fluxo de 2024, consolidando a capital federal como porta de entrada estratégica do país e vitrine do novo ciclo de crescimento do turismo nacional.
Por trás dos dados está uma transformação silenciosa: Brasília deixou de ser apenas o centro político do Brasil para se tornar um hub de eventos, cultura e conexões internacionais. O Governo do Distrito Federal (GDF) calcula que a arrecadação com o Imposto Sobre Serviços (ISS) subirá de R$ 8 milhões em 2022 para R$ 80 milhões em 2025, reflexo direto da movimentação turística e da cadeia econômica que ela impulsiona — de hotéis a transporte, de gastronomia a entretenimento.
“Brasília se transformou num centro de eventos. A cidade recebe congressos, shows e festivais que movimentam a economia e melhoram a renda de todos”, afirmou o governador Ibaneis Rocha.
O avanço também se explica por um conjunto de políticas públicas que reforçaram a infraestrutura turística. O GDF apoiou grandes eventos, criou novas rotas turísticas, reativou o ônibus de turismo cívico gratuito e reformou espaços icônicos, como o Museu de Arte de Brasília (MAB) e a Sala Martins Pena, no Teatro Nacional Claudio Santoro. O programa Vai de Graça, que garante transporte público gratuito aos domingos e feriados, ampliou o acesso popular aos pontos turísticos.
Para o secretário de Turismo, Cristiano Araújo, o recorde é fruto de um “conjunto de fatores”, entre eles a realização de shows internacionais, o fortalecimento do turismo de eventos e a qualidade do Aeroporto Internacional de Brasília. “É o maior número da história da capital, e o objetivo é continuar crescendo”, afirma.
Acima da média nacional
O crescimento de Brasília supera o do país: enquanto o Brasil registrou 7 milhões de turistas estrangeiros entre janeiro e setembro — alta de 45% —, o DF avançou mais de 75%. Para o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, o desempenho reflete a imagem renovada da capital brasileira.
“Brasília consolida a imagem de um Brasil democrático, moderno e sustentável. Além da arquitetura, temos áreas verdes e um patrimônio cultural reconhecido pela Unesco”, destacou.
Os principais países de origem dos turistas que chegaram à capital foram Argentina (22.457), Estados Unidos (15.747), Peru (7.089), Colômbia (6.687) e Portugal (5.170). Esse perfil se alinha às novas rotas internacionais diretas que partem do Aeroporto de Brasília para Lima, Lisboa, Cidade do Panamá, Miami, Orlando, Buenos Aires, Cancún e Bogotá.
Integração com o mundo
O secretário de Relações Internacionais, Paco Britto, destaca que o avanço é resultado de uma estratégia diplomática e logística iniciada em 2022, com a criação da Serinter-DF.
“Os países que mais enviam turistas são os mesmos com os quais abrimos novas rotas. Isso mostra que Brasília se consolidou como metrópole global”, afirma. Ele antecipa que o governo mantém conversas com a companhia italiana ITA para um voo direto entre Roma e Brasília.
Essa expansão foi possível graças à redução do ICMS sobre o querosene de aviação (QAV), que caiu de 12% para cerca de 7%, medida que tornou o aeroporto local mais competitivo. O resultado aparece também nos números da Inframerica, que administra o terminal: entre janeiro e junho de 2025, cerca de 440 mil passageiros internacionais desembarcaram na capital, um salto de 38% sobre o ano anterior.
Em maio, o Aeroporto de Brasília foi eleito o melhor da América e o quarto melhor do mundo por uma plataforma especializada — reconhecimento que reforça sua posição como principal hub aéreo do país fora do eixo Rio–São Paulo.
Análise
Mais do que crescimento, o que Brasília vive é maturidade turística. A cidade aprendeu a usar o que tem de mais singular — sua arquitetura, sua centralidade e sua identidade cosmopolita — para se projetar no mapa internacional. A capital planejada agora exporta experiências, não apenas decisões políticas.
E enquanto o turismo gera receita e reputação, o resultado mais duradouro talvez seja outro: Brasília está aprendendo a se enxergar como destino, e não apenas passagem.